Folha Dominical


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FOLHA  DOMINICAL

Paróquia de S. Bartolomeu do Beato
                                       Nº 108
                                         DOMINGO III DO ADVENTO

ANO C − 16 de Dezembro de 2012

Palavra  de  Deus
Clama jubilosamente, filha de Sião; solta brados de alegria, Israel.  Exulta, rejubila de todo o coração, filha de Jerusalém. O Senhor revogou a sentença que te condenava, afastou os teus inimigos. O Senhor, rei de Israel, está no meio de ti, e já não temerás nenhum mal. Naquele dia, dir-se-á a Jerusalém: «Não temas, Sião, não desfaleçam as tuas mãos. O Senhor teu Deus está no meio de ti, como poderoso salvador. Por causa de ti, Ele enche-Se de júbilo, renova-te com o seu amor, exulta de alegria por tua causa, como nos dias de festa».
 
Salmo Responsorial – (Is 12, 2-6)
Refrão – Povo do Senhor, exulta e canta de alegria.

2.ª Leitura (Filip 4, 4-7)
Irmãos: Alegrai-vos sempre no Senhor. Novamente vos digo: alegrai-vos. Seja de todos conhecida a vossa bondade. O Senhor está próximo. Não vos inquieteis com coisa alguma; mas em todas as circunstâncias, apresentai os vossos pedidos diante de Deus, com orações, súplicas e acções de graças. E a paz de Deus, que está acima de toda a inteligência, guardará os vossos corações e os vossos pensamentos em Cristo Jesus.

Evangelho (Lc 3, 10-18)
Naquele tempo, as multidões perguntavam a João Baptista: «Que devemos fazer?».Ele respondia-lhes: «Quem tiver duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma; e quem tiver mantimentos faça o mesmo».  Vieram também al-
guns publicanos para serem baptizados e disseram: «Mestre, que devemos fazer?». João respondeu-lhes: «Não exijais nada além do que vos foi prescri-to».  Perguntavam-lhe  também os  soldados:  «E nós,  que devemos fazer?».
Ele respondeu-lhes: «Não pratiqueis violência com ninguém nem denuncieis injustamente; e contentai-vos com o vosso soldo». Como o povo estava na expectativa e todos pensavam em seus corações se João não seria o Messias, ele tomou a palavra e disse a todos: «Eu baptizo-vos com água, mas está a chegar quem é mais forte do que eu, e eu não sou digno de desatar as correias das suas sandálias. Ele baptizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo. Tem na mão a pá para limpar a sua eira e recolherá o trigo no seu celeiro; a palha, porém, queimá-la-á num fogo que não se apaga». Assim, com estas e muitas outras exortações, João anunciava ao povo a Boa Nova». 
Uma conversão que se note 
A liturgia da palavra deste domingo aponta os sinais fidedignos de uma conversão autêntica: amor e justiça (evang.); e, além disso, alegria. O Advento suscita no crente júbilo e esperança porque o Senhor está próximo, mais, está presente no meio do seu povo (1.ª e 2.ª leit.).
 
1. O que temos de fazer? No evangelho de hoje distinguimos duas secções:
a) Catequese moral de conversão dada por João Baptista a três grupos de pessoas. Gente do povo, publicanos e militares, depois de o ouvir proclamar o baptismo de penitência para perdão dos pecados, dirigem-se ao profeta, perguntando-lhe: «Que devemos fazer?»  É a pergunta óbvia de quem come-
ça a converter o coração a Deus. A resposta de João não é um discurso tranquilizante. Nos três casos, a catequese moral tem um denominador comum mas com matizes próprios: amor e justiça.
b) Atividade profética de João, que começa por identificar-se. A sua figura suscitou um forte movimento religioso, popular e não de elite, que intrigava os chefes do povo e colocava muitas interrogações em todos os meios. «O povo estava na expetativa e todos pensavam em seus corações se João não seria o Messias». Por isso, ele declara-lhes abertamente: «Eu baptizo-vos com água, mas está a chegar quem é mais forte do que eu, e eu não sou digno de desatar as correias das suas sandálias». E anunciava o baptismo e o juízo do Messias com linguagem apocalíptica, própria da tradição profética: «Ele baptizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo. Tem na mão a pá para limpar a sua eira e recolherá o trigo no seu celeiro:  a palha,  porém,  queimá-la-á num fogo que não se apaga». 
2. Conversão ao amor e à justiça. Para viver a alegria da vinda do Senhor, temos de aprofundar a conversão enquanto atitude permanente: Que posso e devo fazer eu para melhorar o meu comportamento e o ambiente à minha volta? Como resposta a essa pergunta, João Baptista propôs dois campos de ação: amor e justiça. O mundo experimentaria uma profunda revolução social, a mais radical e efetiva, apenas se cada uma praticasse este breve conselho evangélico: converter-se ao amor e à justiça. A conversão cristã é amor que partilha com os outros  a salvação e  o amor com  que somos amados por Deus. Não é fácil amar, partilhar e repartir, porque supõe desprender-se de algo que cada um considera muito seu. Todos resistimos à mudança para não deteriorar o nível de vida adquirido, nem diminuir rendimentos, garantias e benefícios. É facil culpar os ricos, os poderosos, as multinacionais e os blocos dominantes, para concluir que nós não podemos fazer nada; mas cada um de nós é, em ponto pequeno, um reflexo fiel da macro-estrutura. Por isso, temos de examinar as nossas  atitudes básicas  com absoluta sinceridade e sem mecanismos de defesa que encubram o nosso egoísmo. Amor e justiça, caridade e comunhão no partilhar, são as duas caras da mesma moeda. Não há uma sem a outra. João Baptista não era um filósofo, nem um economista, nem um ideólogo político, mas acertou em cheio no alvo.
 3. «Alegrai-vos sempre no Senhor». A alegria pela salvação de Deus é outro dos conselhos deste domingo, como podemos ouvir nas outras leituras, do profeta Sofonias, a primeira, e do apóstolo São Paulo, a segunda. Esta alegria da libertação  não é um bem  para consumo privado;  há que testemunhá-la, partilhando-a com os outros. Infelizmente, a alegria contagiante não é um ponto forte do testemunho cristão. Não se trata aqui de ruído e alvoroço superficial, mas de felicidade profunda e alegria oxigenante, que brotam de um coração convertido ao Senhor, em paz com Ele, consigo mesmo e com os outros. Júbilo que se sente sem excessos, mas que se nota e cria esperança à sua volta, por maiores que sejam os problemas que nos assediam. Frente à depressão do  mundo atual e à  tentação dos sucedâneos da felicidade  (consumismo, dinheiro, sexo, álcool, drogas, ...), o crente tem de evidenciar o seu alegre otimismo perante a vida, acreditando no ser humano, na sua vocação e dignidade sublimes, e amando-o como Deus o ama. É a consequência lógica da posse da «boa notícia», para si, para a sua família, para os vizinhos e companheiros de trabalho, para os de perto e de longe.  Condição indispensável para viver com alegria é ter um espírito evangélico de pobre, isto é, ser homem, ou mulher, vazio de si mesmo, humilde, recetivo, aberto a Deus e aos irmãos, sem egoísmo, amigo de partilhar e disposto a ser enriquecido pelos dons humanos e espirituais dos outros, inclusive dos mais pobres. A alegria evangélica, mesmo no meio de grandes penúrias e contrariedades, é o lote formidável na  herança do Senhor,  para os  grupos cristãos  mais comprometidos com o evangelho e com a libertação integral dos pobres. Porque estamos mais predispostos para a tristeza e o desencanto, do que para a festa, o otimismo, a alegria e a felicidade?  Pode haver mais  motivos  para a primeira situação mas não devemos entrar no jogo. Se «um santo triste é um triste santo», como dizia Santa Teresa de Ávila,  um cristão triste será um trise cristão. A tristeza não nos dominará se soubermos ser donos dos nossos sentimentos. Se houver serenidade, paz, humanidade no rosto e no olhar, seguiremos um mandamento cristão, o da alegria que São Paulo tanto nos pede: «Alegrai-vos sempre no Senhor. Novamente vos digo: alegrai-vos

Hoje, Senhor, bendiz-te a boca cheia do canto alegre
dos nossos corações convertidos ao teu amor e à tua justiça.
Éramos terra estéril, e baldio calcinado pelo egoísmo,
mas tu és capaz de fazer florescer o deserto.
Uma aurora de paz desperta na linha do horizonte,
e a alegria é o nosso lote na herdade do Senhor.
Ensina-nos a viver na tua presença e a louvar-Te sempre
com o coração alegre pela tua amorosa gratuidade de Pai,
porque tudo é presença e graça, ternura e carinho.
Converte-nos, Senhor, à alegria, ao amor e à justiça;
e, regenerados, por Ti, mantém-nos na fidelidade. Ámen.
 
(in: ‘A Palavra de Cada Domingo’ de B. Caballero)
CONVERSÃO,  AMOR  E  ALEGRIA

Para reflexão


 
1. Sendo este o chamado «domingo da alegria», antes do Natal, que devo fazer para dar aos outros um claro testemunho de alegria cristã, nesta quadra do Natal?
2. Como será possível dar este testemunho de alegria diante de pessoas que sofrem ou são provadas pelas dificuldades da vida?
3. Os que vivem  comigo  sentem-se felizes e contentes, pelo modo como os trato?

4. Se eu perguntasse a João Baptista que devo fazer para me conveter e ser feliz, que resposta me daria ele?
Para a vida
Melhorar as minhas relações com os outros, de modo a torná-las agradáveis para eles.






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      Paróquia de S. Bartolomeu do Beato
           
Nº 107
       DOMINGO II DO ADVENTO
 
ANO C − 9 de Dezembro de 2012





Palavra  de  Deus








.ª Leitura (Bar 5, 1-9)

Jerusalém, deixa a tua veste de luto e aflição e reveste para sempre a beleza da glória que vem de Deus. Cobre-te com o manto da justiça que vem de Deus e coloca sobre a cabeça o diadema da glória do Eterno. Deus vai mostrar o teu esplendor a toda a criatura que há debaixo do céu; Deus te dará para sempre este nome:  «Paz da justiça e glória da piedade».  Levanta-te, Jerusalém, sobe ao alto e olha para o Oriente: vê os teus filhos reunidos desde o Poente ao Nascente, por ordem do Deus Santo, felizes por Deus Se ter lembrado deles. Tinham-te deixado, caminhando a pé, levados pelos inimi-gos; mas agora é Deus que os reconduz a ti, trazidos em triunfo, como filhos de reis. Deus decidiu abater todos os altos montes e as colinas seculares e encher os vales, para se aplanar a terra, a fim de que Israel possa caminhar em segurança, na glória de Deus. Também os bosques e todas as árvores aromáticas darão sombra a Israel, por ordem de Deus,  porque Deus conduzirá Israel na alegria, à luz da sua glória, com a misericórdia e a justiça que d’Ele procedem.

 Salmo Responsorial – (125)

Refrão – O Senhor fez maravilhas em favor do seu povo.


2.ª Leitura (Filip 1, 4-6.8-11)

Irmãos: Em todas as minhas orações, peço sempre com alegria por todos vós, recordando-me da parte que tomastes na causa do Evangelho, desde o primeiro dia até ao presente. Tenho plena confiança de que Aquele que começou em vós tão boa obra há-de levá-la a bom termo, até ao dia de Cristo Jesus. Deus é testemunha de que vos amo a todos no coração de Cristo Jesus. Por isso Lhe peço que a vossa caridade cresça cada vez mais em ciência e discernimento,  para que possais distinguir o que é melhor e vos tor-
neis puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo, na plenitude dos frutos de justiça que se obtêm por Jesus Cristo, para louvor e glória de Deus.

Evangelho (Lc 3, 1-6)
No décimo quinto ano do reinado do imperador Tibério, quando Pôncio Pilatos era governador da Judeia, Herodes tetrarca da Galileia, seu irmão Filipe tetrarca da região da Itureia e Traconítide e Lisânias tetrarca de Abilene, no pontificado de Anás e Caifás, foi dirigida a palavra de Deus a João, filho de Zacarias, no deserto. E ele percorreu toda a zona do rio Jordão, pregando um baptismo de penitência para a remissão dos pecados, como está escrito no livro dos oráculos do profeta Isaías: «Uma voz clama no deserto: ‘Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas. Sejam alteados todos os vales e abatidos os montes e as colinas; endireitem-se os caminhos tortuosos e aplanem-se as veredas escarpadas; e toda a criatura verá a salvação de Deus’».
 
Conversão aos valores do Reino de Deus 
1. Preparar o caminho do Senhor. De acordo com a liturgia da palavra do segundo domingo de Advento, a condição para a libertação pessoal e social é a conversão aos valores evangélicos (2.ª leit.). Assim ficará patente o esplendor da salvação messiânica que o profeta Baruc descreve (1.ª leit.), oferecida por Deus a todos os  homens na  pessoa de Cristo,  anunciado por João Baptista (evang.). No evangelho de hoje temos duas secções básicas e distintas. Em ambas o verdadeiro protagonista é a palavra de Deus que vem sobre João Baptista. Na primeira parte o evangelista Lucas enquadra essa palavra na história nacional judaica e na internacional do império romano; na segunda parte faz um resumo da pregação do Baptista: João percorria toda a zona do rio Jordão pregando um baptismo de penitência para o perdão dos pecados. O texto de Isaías em que é o Senhor quem fala, e que se repete na boca de João Baptista, clama abertamente por mudanças substanciais na geografia do deserto,  entenda-se,  na nossa paisagem interior e exterior:  pede conversão individual e estrutural, pessoal e social. De facto, foi a gente simples do povo que melhor respondeu  ao imperativo de conversão  que o profeta anunciava. Os pobres e vazios de si mesmo respondem mais generosamente ao chamamento do Alto. Preparar o caminho do Senhor é cada vez mais difícil, porque, no nosso meio,  o deserto da descrença e da  apatia  religiosa expande-se com força. Contudo, a espiritualidade peregrina, como caminho de libertação messiânica, tem de estar sempre presente no caminhar do povo cristão em direção à repatriação final da história, isto é, para o dia de Cristo, de que fala São Paulo na segunda leitura. 
2. «Sensibilidade para apreciar os valores». Paulo deseja que os fiéis da comunidade de Filipos − colónia romana na Grécia − continuem a crescer, cada vez mais, na comunhão de amor através de uma sensibilidade aguda para apreciar os valores.  Só assim  poderão  manter-se  limpos e irrepreensíveis para o encontro com Cristo. Crescer em amor é converter-se aos valores do reino de Deus. Porque um amor que amadurece aumenta a sensibilidade percetiva, o discernimento penetrante, o apreço e seguimento dos valores evangélicos humanos. Então, torna-se possível resolver, de um modo cristão, os problemas que surgem cada dia no relacionamento conjugal e familiar, laboral e social. Peregrinos no deserto da vida, não podemos parar no oásis do passado, temos de caminhar para o futuro, com realismo e discernimento do presente. Numa época de mudança social e de crise civilizacional temos de examinar  seriamente a nossa sensibilidade evangélica e a prioridade de critérios no programa da nossa vida. O Advento recorda-nos quais os valores essenciais e mais concordantes com o evangelho e com a espera vigilante do Senhor: conversão do coração para revolucionar as estruturas; amor sem fronteiras, especialmente aos irmãos mais pobres; partilha em fraternidade; compromisso social e paixão pela justiça. Ora isto só é possível com a conversão pessoal ao amor a Deus e ao próximo. 
3. Equilíbrio entre realismo e entusiasmo profético.  Infelizmente,  o entusiasmo profético está sob suspeita numa sociedade tecnicista e materialista. Profetas como João Baptista e Baruc têm muito contra eles,  numa era governada pelo computador e pela eletrónica, onde as vantagens e desvantagens de qualquer inovação se calculam e medem ao milímetro. Precisamos de chegar a um equilíbrio entre a planificação realista e o entusiasmo profético, pois se nos fecharmos à mudança e à conversão pessoal e social, estamos acabados. Na verdade, são os homens e mulheres de carisma que impelem a história.  Precisamos de um novo Francisco de Assis,  que nada sabia de cálculos sérios, mas que, com testemunho e paixão pela pobreza evangélica, foi capaz de  operar mudanças radicais  na Igreja do século XIII.  E mulheres como Catarina de Sena (de vida curta, 33 anos), cujo conselho sobre o bem da Cristandade, no turbulento século XlV, foi escutado pelo papa Gregório XI, que deixou Avinhão e mudou-se para Roma; ou como Teresa de Ávila que, «sem estudos de Salamanca», foi capaz de renovar a vida contemplativa e a espiritualidade do século XVI e seguintes.  João Baptista anunciou, na fronteira do deserto, a mudança revolucionária de uma conversão profunda que ratifica o traçado e aplana o terreno. Esse trabalho «topográfico», orientado para a preparação de uma estrada para o Senhor, significa ao nível da pessoa: arrasar o orgulho pelo reconhecimento da nossa condição de pecadores, e levantar os ânimos,  pela esperança.  E a nível social,  aplanar as desigualdades injustas e erguer os direitos humanos, tapando os buracos da fome, da ignorância e da pobreza, em toda a sua amplitude. O mais importante é a conversão pessoal, a mudança de coração, mentalidade e comportamento. Sem isto não há  libertação possível,  porque a  vida do homem  não se transforma de repente. O futuro melhor forja-se no presente, através do equilíbrio entre a esperança motivadora e a urgência do advento de Deus no mundo.
 
Peregrinos no deserto da vida, bendizemos-te,
Deus da libertação, com todas as forças que temos
porque a tua aurora desponta na linha do nosso horizonte,
livra-nos, Senhor, de pararmos no oásis enganador do passado,
e faz com que caminhemos para o futuro com total realismo,
discernindo o presente difícil e os valores do teu reino,
porque tão estéril é o conservadorismo cego
como, por sistema, fazer tábua rasa de todo o passado.
 
Mantém-nos firmes, Senhor, na tensão e no equilíbrio
de uma esperança inquieta e de um amor jovem e ativo,
para converter o nosso coração aos valores do teu reino.
Ámen.
  
(in: ‘A Palavra de Cada Domingo’ de B. Caballero)
  
ABRIR  CAMINHOS
 

 Para reflexão 

1. Posso garantir que acertei na escolha do meu caminho na vida, para ir ao encontro de  Deus?  Em que aspetos  esse caminho pode e deve ser retificado?

2. Quando oiço João Baptista pregar a necessidade de preparar os caminhos do Senhor, sinto-me interpelado por esse apelo, especialmente neste Advento?

3. Que interesse há, para nós, no facto de S. Lucas dar tantas  precisões  sobre o enquadramento histório da intervenção do Precursor de Jesus? Isso pode ter alguma importância  para a  compreensão da  relação entre a história dos homens e a obra salvadora de Jesus Cristo?
 
Para a vida

Defender o meu silêncio interior com «momentos de deserto», na preparação para o Natal, tendo em conta que João Baptista escolheu um lugar ermo para pregar a palavra de Deus e apelar à conversão.


FOLHA  DOMINICAL

     Paróquia de S. Bartolomeu do Beato

 Nº 106







                                  
DOMINGO I DO ADVENTO
 
ANO C − 2 de Dezembro de 2012
Palavra  de  Deus



1.ª Leitura (Jer 33, 14-16)

Eis o que diz o Senhor: «Dias virão, em que cumprirei a promessa que fiz à casa de Israel e à casa de Judá: Naqueles dias, naquele tempo, farei germinar para David um rebento de justiça que exercerá o direito e a justiça na terra. Naqueles dias, o reino de Judá será salvo e Jerusalém viverá em segurança. Este é o nome que chamarão à cidade: ‘O Senhor é a nossa justiça’». 

Salmo Responsorial – (24)

Refrão – Para Vós, Senhor, elevo a minha alma.
 

2.ª Leitura (1 Tes 3, 12 − 4, 2)

Irmãos: O Senhor vos faça crescer e abundar na caridade uns para com os outros e para com todos, tal como nós a temos tido para convosco. O Senhor confirme os vossos corações numa santidade irrepreensível, diante de Deus, nosso Pai, no dia da vinda de Jesus, nosso Senhor, com todos os santos. Finalmente, irmãos, eis o que vos pedimos e recomendamos no Senhor Jesus: recebestes de nós instruções sobre o modo como deveis proceder para agradar a Deus, e assim estais procedendo; mas deveis progredir ainda mais. Conheceis bem as normas que vos demos da parte do Senhor Jesus. 

Evangelho (Lc 21, 25-28.34-36)

Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas e, na terra, angústia entre as nações, aterradas com o rugido e a agitação do mar. Os homens morrerão de pavor, na expectativa do que vai suceder ao universo, pois as forças celestes serão abaladas. Então, hão-de ver o Filho do homem vir numa nuvem, com grande poder e glória. Quando estas coisas começarem a acontecer,  erguei-vos  e  levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima. Tende cuidado convosco, não suceda que os vossos corações se tornem pesados pela devassidão,  a embriaguez e as preocupações da vida, e esse dia não vos surpreenda subitamente como uma armadilha, pois ele sobrevirá sobre todos os que habitam a terra inteira. Portanto, vigiai e orai em todo o tempo, para terdes a força de vos livrar de tudo o que vai acontecer e poderdes estar firmes na presença do Filho do homem».
 





Uma esperança que não defrauda 
 
1. A nossa libertação está próxima.  A  proclamação  evangélica  deste primeiro domingo de Advento agrupa passagens do capítulo 21 de São Lucas, evangelho que leremos durante este ciclo C que hoje começa. Lucas é mais tardio que  os outros  dois  evangelistas  sinópticos:  Mateus e  Marcos.  Chamam-se sinópticos porque os três evangelhos, no conjunto, seguem linhas paralelas. Por ser posterior, Lucas escreve com mais perspetiva histórica do que Mateus e Marcos. Já tinha acontecido a destruição de Jerusalém por Tito (cerca do ano 70), e já se tinha sacrificado o atraso da parusia, ou última vinda do Senhor que, a princípio, se julgava eminente. O amor e a oração assídua serão a  melhor  maneira de  manter a vigilância,  como avisam a segunda leitura e o evangelho deste domingo. A passagem evangélica de hoje usa a linguagem própria do estilo bíblico que se denomina «apocalíptico». Neste género literário não se deve dar valor a cada pormenor isoladamente mas à mensagem global: o mundo não é eterno, terá um fim, tal como a humanidade, a quem Deus oferece a salvação por intermédio de Cristo. Nesta linha apocalíptica, o evangelho que nos ocupa contém uma secção descritiva e outra exortativa. A descrição do fim do mundo precede o anúncio da libertação que a vinda de Cristo significa. Ambos os factos fundamentam a exortação à vigilância: «Quando estas coisas começarem a acontecer, erguei-vos e levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima. Tende cuidado convosco, não suceda que os vossos corações se tornem pesados... Portanto, vigiai e orai em todo o tempo, para que possais livrar-vos de tudo o que vai acontecer e comparecer diante do Filho do homem». 
2. Uma esperança que não defrauda. Hoje escutamos uma proclamação de esperança, que abre o Advento. A vossa libertação está próxima. Nessas palavras há uma clara sintonia com a expectativa radical do mundo de hoje e do cristão que se interroga sobre o momento atual do mundo.  Há muitas respostas para esta inquietação, mas precisamos de uma esperança que não nos defraude. Não podemos viver sem esperança, porque esta constitui uma parte fundamental da estrutura pessoal e psicológica de cada um, dizem os antropólogos. Só esperando podemos sobreviver. A humanidade avança graças à esperança. E, assim, o homem e mulher têm resistência e respostas
      perante a vida e a morte, o amor e a violência, a saúde e a doença, a paz e a justiça, o casamento e a família, a sociedade e o trabalho de cada dia. Quem não espera está acabado como pessoa e como cristão. Como resposta à perene esperança do coração do homem, surgem constantemente messianismos libertadores e muitos revolucionários, de livro, de bolso ou de ocasião, que são exploradores encobertos, vanguardistas interessados e oportunistas sem escrúpulos. Criar expectativa de grandes melhorias sociais é uma velha estratégia. Mas nenhum dos sistemas político-económicos em uso dá uma explicação completa e satisfatória ao porquê do viver e morrer, do trabalhar e sofrer.  Depois de muitos anos de progresso social, o desencanto, o desespero, a falta de amor, o ceticismo e a frustração parecem ser o denominador comum nos dias que correm a todos os níveis: político, social, laboral, familiar, conjugal e geracional. Hoje, o jovem, o adulto e o idoso são mais felizes do que antigamente? Os avanços técnicos, as promessas e conquistas sociais, o messianismo temporal conseguem a libertação e salvação do homem? Haverá remédio e libertação possível para uma humanidade cansada, angustiada e burlada nas suas esperanças mais nobres? Não cedamos ao derrotismo. Há, efectivamente, uma esperança que não defrauda: Jesus Cristo. 
3. Cristo é a nossa única salvação. Há uma pedra angular sobre a qual podemos construir o edifício da libertação humana: Jesus Cristo. Ninguém mais nos pode salvar. Debaixo dos céus e sobre a terra não nos foi dado outro nome que possa salvar-nos e em quem possamos confiar. Por isso, «levantai a cabeça, porque a vossa libertação está próxima». Já está presente o advento de Deus, e a sua salvação não é somente para o além, mas para este momento que vivemos. A libertação que Cristo nos oferece é pessoal e profunda, uma salvação a partir de dentro, pois liberta-nos do pecado e transforma-nos em homens novos, livres dos critérios do homem velho, perdido. Uma vez libertados, temos de aplicar o nosso esforço na transformação da realidade através da força do amor, a única Iibertação possível, a única revo-lução eficaz. Amor que se torna justiça, fraternidade, solidariedade, paz, compromisso com o pobre e com o marginalizado, porque esse foi o estilo de Jesus e é o espírito das bem-aventuranças do reino de Deus. Para assimilar a libertação de Cristo, que age a partir do interior e nos converte à esperança vigilante, a segunda parte do evangelho de hoje assinala duas condições:
1.ª − Ter a mente esvaziada e os corações leves.  As três ameaças  à vigilância assinaladas no texto: o vício, a bebida e o dinheiro, são só indicadores do campo de maldade alojada no interior do homem pecador, ainda sem se con-verter ao reino de Deus. Examine-se cada um com lealdade diante de Deus.
2.ª − Estar sempre despertos, vigiando em oração e pedindo força a Deus, para perseverar até ao firn. A vigilância do Advento é a atitude libertadora para toda a vida do cristão. Porque a vigilância é esperança ativa, é fé que se expressa no trabalho e nas relações humanas de cada dia; é inquietude que nos dói e amor que nos desperta para transformar o nosso mundo, onde tantos irmãos esperam uma mão amiga. Que possam contar connosco.
 
Obrigado, Senhor, porque no início do Advento
dás-nos um carinhoso e amigável toque no ombro
a fim de nos despertar da habitual sonolência:
Estai alerta porque a vossa libertação está próxima!
Obrigado! Tu és a única esperança que não nos defrauda.
 
Torna-nos capazes de manter em cada dia a tensão do amor
que vela trabalhando, sem permitir que se nos embote a mente
com o vício, o egoísmo, o dinheiro, a soberba e a ambição.
 
Queremos estar preparados, esperando-te sempre alegres,
como se cada dia fosse o definitivo da tua vinda, esperada.
Assim passaremos no exame final deste curso. Ámen.
 
(in: ‘A Palavra de Cada Domingo’ de B. Caballero)
 
«A  VOSSA  LIBERTAÇÃO  ESTÁ  PRÓXIMA»
Para reflexão 
1. De que modo é que a salvação trazida por Cristo pode manifestar-se já no presente, embora se realize plenamente apenas no final dos tempos?
2. Que sinais há em mim e na minha Paróquia de que a salvação já é uma realidade, depois do aparecimento de Jesus na terra dos homens?
3. Como entendo eu o apelo do Senhor, no Evangelho deste domingo: «Erguei-vos e  levantai a  cabeça,  porque a vossa libertação está próxima»? 
Para a vida 
      Começar o Advento com algum sinal «cristão» da preparação para o Natal: Coroa do Advento, Presépio, gestos de partilha, testemunhos de esperança e alegria...
 
Paróquia de S. Bartolomeu do Beato 
FOLHA Nº 106 – Adenda
 
IMACULADA CONCEIÇÃO DA VIRGEM SANTA MARIA
 
8  de Dezembro de 2012
 
Palavra  de  Deus
1.ª Leitura (Gen 3, 9-15.20)
Depois de Adão ter comido da árvore, o Senhor Deus chamou-o e disse-lhe: «Onde estás?». Ele respondeu: «Ouvi o rumor dos vossos passos no jardim e, como estava nu, tive medo e escondi-me». Disse Deus: «Quem te deu a conhecer que estavas nu? Terias tu comido dessa árvore, da qual te proibira comer?».  Adão respondeu:  «A mulher que me destes por  companheira deu-me do fruto da árvore e eu comi». O Senhor Deus perguntou à mulher: «Que fizeste?» E a mulher respondeu: «A serpente enganou-me e eu comi». Disse então o Senhor Deus à serpente: «Por teres feito semelhante coisa, maldita sejas entre todos os animais domésticos e entre todos os animais selvagens. Hás-de rastejar e comer do pó da terra todos os dias da tua vida.  Estabelecerei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a descendência dela. Esta te esmagará a cabeça e tu a atingirás no calcanhar». O homem deu à mulher o nome de ‘Eva’, porque ela foi a mãe de todos os viventes. 
Salmo Responsorial – (97)
Refrão – Cantai ao Senhor um cântico novo:
   o Senhor fez maravilhas. 
2.ª Leitura (Ef 1, 3-6.11-12)
Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto dos Céus nos abençoou com toda a espécie de bênçãos espirituais em Cristo. N’Ele nos escolheu,  antes da criação do mundo,  para sermos santos e irrepreensíveis, em caridade, na sua presença. Ele nos predestinou, conforme a benevolência da sua vontade, a fim de sermos seus filhos adoptivos, por Jesus Cristo, para louvor da sua glória e da graça que derramou sobre nós, por seu amado Filho. Em Cristo fomos constituídos herdeiros, por termos sido predestinados, segundo os desígnios d’Aquele que tudo realiza conforme a decisão da sua vontade, para sermos um hino de louvor da sua glória, nós que desde o começo esperámos em Cristo.


Evangelho (Lc 1, 26-38)
Naquele tempo, o Anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia chamada Nazaré, a uma Virgem desposada com um homem chamado José. O nome da Virgem era Maria. Tendo entrado onde ela estava, disse o Anjo: «Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo». Ela ficou perturbada com estas palavras e pensava que saudação seria aquela. Disse-lhe o Anjo: «Não temas, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. Conceberás e darás à luz  um Filho,  a quem porás o  nome de Jesus.  Ele será grande e  chamar-Se-á Filho do Altíssimo. O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David; reinará eternamente sobre a casa de Jacob e o seu reinado não terá fim». Maria disse ao Anjo: «Como será isto, se eu não conheço homem?». O Anjo respondeu-lhe: «O Espírito Santo virá sobre ti e a força do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra. Por isso o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus. E a tua parenta Isabel concebeu também um filho na sua velhice e este é o sexto mês daquela a quem chamavam estéril; porque a Deus nada é impossível». Maria disse então: «Eis a escrava do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra». 
Alegra-te, Maria, cheia de graça 
1. Santa Maria do Advento. No contexto litúrgico do Advento celebramos esta festa da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria. O Advento é o lugar litúrgico da devoção mariana, por nele se entender melhor o significado de Maria. Ela mesma é advento, isto é, expectativa ansiosa do nascimento do Filho de Deus que encarnou em seu seio, conforme as palavras do anjo na anunciação que lemos no evangelho de hoje. 
2. Eva e Maria: Duas mulheres no projeto de Deus. As leituras bíblicas de hoje mostram-nos o papel divergente das duas mulheres no projeto salvador de Deus; papel negativo de Eva e positivo de Maria. Esta última foi assumida por Deus como instrumento privilegiado no seu desígnio sobre a humanidade nova. O papel maternal de Maria − função própria e exclusivamente feminina − é a gestação do homem novo, Cristo. 
3. Maria, imune da culpa original. A definição dogmática da Imaculada Conceição de Maria declara-a imune de toda a mancha da culpa original, desde o primeiro instante da sua vida, em atenção aos méritos de Cristo, salvador do género humano. Modo preventivo e privilegiado de redenção para Maria, entre outros, pelos seguintes motivos: maternidade divina, fundamento de toda a teologia mariana; função co-redentora, associada ao sacrifício redentor de Cristo, para a salvação da humanidade; e imagem da humanidade nova, restaurada por meio do seu Filho feito homem. Maria devia ser a mulher nova e mostrar em si mesma a nova criação de Deus, a nova humanidade restaurada em Cristo, o homem novo.

­  FOLHA  DOMINICAL








     Paróquia de S. Bartolomeu do Beato
           
Nº 105
                                  
XXXIV DOMINGO COMUM
 
JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO
ANO B − 25 de Novembro de 2012
  
Palavra  de  Deus




.ª Leitura (Dan 7, 13-14)

Contemplava eu as visões da noite, quando, sobre as nuvens do céu, veio alguém semelhante a um filho do homem. Dirigiu-Se para o Ancião venerável e conduziram-no à sua presença. Foi-lhe entregue o poder, a honra e a realeza, e todos os povos e nações O serviram. O seu poder é eterno, não passará jamais, e o seu reino não será destruído. 

Salmo Responsorial – (92)

Refrão – O Senhor é rei num trono de luz.
 

2.ª Leitura (Ap 1, 5-8)

Jesus Cristo é a Testemunha fiel, o Primogénito dos mortos, o Príncipe dos reis da terra. Àquele que nos ama e pelo seu sangue nos libertou do pecado e fez de nós um reino de sacerdotes para Deus seu Pai, a Ele a glória e o poder pelos séculos dos séculos. Amen. Ei-l’O que vem entre as nuvens, e todos os olhos O verão, mesmo aqueles que O trespassaram; e por sua causa hão-de lamentar-se todas as tribos da terra. Sim. Amen. «Eu sou o Alfa e o Ómega», diz o Senhor Deus, «Aquele que é, que era e que há-de vir, o Senhor do Universo». 

Evangelho (Jo 18, 33b-37)

Naquele tempo, disse Pilatos a Jesus: «Tu és o Rei dos judeus?».  Jesus respondeu-lhe: «É por ti que o dizes, ou foram outros que to disseram de Mim?». Disse-Lhe Pilatos:  «Porventura eu sou judeu?  O teu povo e os sumos sacerdotes é que Te entregaram a mim. Que fizeste?». Jesus respondeu: «O meu reino não é deste mundo.  Se o meu reino fosse deste mundo,  os meus guardas lutariam  para que  Eu não fosse  entregue aos judeus.  Mas o  meu reino não é daqui». Disse-Lhe Pilatos: «Então, Tu és Rei?». Jesus respondeu-lhe: «É como dizes: sou Rei. Para isso nasci e vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz». 
«O meu reino não é deste mundo» 
1. No momento crítico da máxima debilidade.  A festa de Jesus Cristo, Rei do Universo, fecha o ano litúrgico com um acento escatológico e apocalíptico, próprio dos últimos domingos de cada ciclo. É precisamente no decurso do processo civil da paixão do Senhor que a leitura de hoje coloca o tema da realeza de Cristo. Ele é rei e, contudo, o seu reino não é deste mundo, nem é poder triunfalista, mas serviço à verdade.
As autoridades judaicas querem obter de Pilatos a pena capital para Jesus através de uma acusação que, forçosamente, tinha de preocupar o poder romano: Jesus diz-Se rei dos judeus (Messias), portanto, faz frente a César. Pilatos terá de condená-l'O, se não quiser perder os favores de Tibério. Como o assunto era frívolo, o governador pergunta diretamente a Jesus: «Tu és o Rei dos judeus?» E Jesus responde que efetivamente é rei, e não só dos judeus, mas de tudo o que pertence à verdade, cujo primeiro servidor é Ele mesmo. Mas pontualiza: «O meu reino não é deste mundo». Por isso não tem exército nem soldados que o defendam pela força.
A afirmação de Jesus «o meu reino não é deste mundo», parece-nos difícil de entender, como a Pilatos, porque reis e monarquias − ou, para falar em termos mais universais, governos e estados nacionais − são conceitos políticos que implicam necessariamente o poder temporal, algo que Jesus nega rotundamente em relação a Si próprio. Além disso, o momento em que Cristo faz constar a Sua realeza por uma única vez, segundo os quatro evangelistas, é o momento crítico da máxima debilidade:  quando é processa-
do como um criminoso e está nas mãos dos poderes deste mundo. 
2. Cristo é o verdadeiro rei.  Cristo é o Rei do Universo porque o Pai tudo submeteu ao Filho. Mas o seu reino não é deste mundo porque Jesus não assume funções de poder temporal. Então, será Jesus o rei da ilha da fantasia e o seu reino algo tão espiritual que só existe no país das maravilhas? Não. Ele é um rei autêntico, «cujo reino não terá fim», como dizemos no Credo. O seu reino não é uma enteléquia (A essência da alma, segundo Aristóteles) etérea; Ele não o inventa como um ilusionista que tira coelhos da cartola. Se Ele Se declarou rei é porque a esse título messiânico corresponde uma realidade, um reino com identidade própria.
O reinado de Deus em Jesus Cristo não é poder temporal, de certeza. Mas isso não significa que não esteja presente e não se realize já neste mundo. Jesus ensinou-nos a pedir a Deus no Pai-Nosso: «Venha a nós o vosso reino», aqui e agora, na nossa terra e não só para o fim dos tempos.
Contudo, o reino de Deus que pedimos na nossa oração dominical não requer burocracia nem força política para impor a lei evangélica. O reino de Deus é a sua oferta de salvação e a soberania de amor para a vida dos homens, seus filhos. Por isso conta com a liberdade destes, que respeita sempre.
Jesus não tem reino, apesar de se entregar ao Filho do Homem − título messiânico de Jesus − o poder e o reino eterno sobre todas as nações, segundo a primeira das quatro visões apocalíticas do livro do profeta Daniel, donde se retirou a primeira leitura.
Como um eco e apoteose disto mesmo temos, na segunda leitura, tirada do livro do Apocalipse, uma doxologia (manifestação gloriosa) cristológica em que, à base de títulos messiânicos, canta-se um hino à realeza e soberania de Cristo. Porque Ele é rei e sacerdote, os batizados em Cristo formam um reino de sacerdotes para Deus, e são um povo sacerdotal. Mas sem triunfalismo nem privilégios, pois a realeza de Cristo é serviço à verdade por parte de quem é a Testemunha fiel, o Alfa e o Ómega, o princípio e o fim de toda a Criação. 
3. Ao serviço do reinado de Deus.  Nós, «povo de reis e sacerdotes para Deus» recebemos de Deus a missão de servir o seu «reino de verdade e vida, de santidade e de graça, de justiça, de amor e de paz», as dimensões do reinado de Cristo, Rei do Universo, como reza o prefácio de hoje.
A mentira domina o nosso mundo, tal como a injustiça, se bem que a primeira suscite menos protestos do que a segunda. A mentira e a manipulação da verdade são algo tão comum e habitual a nível interpessoal e informativo, político e social, que parecem banais, tão habituais como o ar contaminado que respiramos ou como uma regra tacitamente admitida no jogo da vida. Contudo, nada de sólido se pode construir sobre a mentira, pois somente a verdade nos liberta.
Além do serviço à verdade, temos de aplicar-nos na obra de justiça. Pois uma leitura atual do reinado de Deus em Jesus Cristo recai necessariamente sobre o anúncio e compromisso eficaz pela justiça e por tudo o que esta inclui: amor libertador e fraternidade, paz e reconciliação entre homens e classes sociais, direitos humanos e dignidade da pessoa.
Se a realeza de Cristo não se pode entender como triunfalisrno religioso nem como imposição coativa do evangelho pela força da lei, pois respeita a justa autonomia da realidade terrena (GS 36), também não é admissível, e é necessário denunciar, o absentismo cristão. Porque o senhorio e a realeza de Cristo têm de entrar no mundo através dos crentes e da comunidade eclesial no seu  conjunto;  não por  meio  dos  privilégios e  influências  sociais,  certamente, mas pelo serviço da verdade e da justiça, da fraternidade e da convivência no amor, da paz e da libertação integral do ser humano (GS 76).
Assim Deus reinará nas vontades individuais, nas instâncias sociais, no mundo dos homens. Quando se derem essas condições, aí estará presente e atuando eficazmente o reinado de Deus por Jesus Cristo.

Hoje louvamos-Te, Pai, porque na ressurreição do teu Filho, Jesus Cristo,

constituíste-O como Rei e Senhor universal de toda a criação

com um poder e um reino eterno que não hão-de cessar.

Obrigado, também, porque, por sua vez, Cristo fez de nós,

os batizados em seu nome,

um reino de sacerdotes para o nosso Deus.

 

Faz, Senhor, que o teu reino venha ao mundo dos homens,

e dá-nos a força do teu Espírito para manter irrevogável

a nossa entrega pessoal à construção do teu reinado

no nosso mundo: um reino de verdade e de vida,

reino de santidade e de graça, de Justiça, de amor e de paz.

Assim mereceremos alcançar de Ti o reino eterno em Cristo.

Ámen.

 

(in: ‘A Palavra de Cada Domingo’ de B. Caballero)
 
 
 
Para reflexão 
1. Num tempo em que as monarquias estão em crise, que sentido tem, para nós, continuar a dizer que Jesus Cristo é Rei de tudo e de todos?
2. Quais devem ser os principais sinais do Reino (ou reinado) de Jesus Cristo no coração dos homens? Esses sinais manifestam-se no meu modo de viver?
3. Em que  aspetos do  meu comportamento Jesus Cristo ainda não «reina» como verdadeiro Senhor?
4. Em que áreas da sociedade atual se nota mais resistência ao reinado de Jesus Cristo? 
Para a vida
Criar sinais do reinado de Cristo na minha vida e valorizá-los na vida dos outros.

 

O  SENHOR  JESUS,  UM  ESTRANHO  REI


    FOLHA  DOMINICAL

Paróquia de S. Bartolomeu do Beato

           
Nº 104
                                  
XXXIII DOMINGO COMUM
 
ANO B − 18 de Novembro de 2012

 











­Palavra  de  Deus












1.ª Leitura (Dan 12, 1-3)
Naquele tempo, surgirá Miguel, o grande chefe dos Anjos, que protege os filhos do teu povo. Será um tempo de angústia, como não terá havido até então, desde que existem nações. Mas nesse tempo, virá a salvação para o teu povo, para aqueles que estiverem inscritos no livro de Deus. Muitos dos que dormem no pó da terra acordarão, uns para a vida eterna, outros para a vergonha e o horror eterno. Os sábios resplandecerão como a luz do firmamento, e os que tiverem ensinado a muitos o caminho da justiça brilharão como estrelas por toda a eternidade. 
Salmo Responsorial – (15)
 
Refrão – Defendei-me, Senhor: Vós sois o meu refúgio. 
2.ª Leitura (Hebr 10, 11-14.18)
Todo o sacerdote da antiga aliança se apresenta cada dia para exercer o seu ministério e oferecer muitas vezes os mesmos sacrifícios, que nunca poderão perdoar os pecados. Cristo, ao contrário, tendo oferecido pelos pecados um único sacrifício, sentou-Se para sempre à direita de Deus, esperando desde então que os seus inimigos sejam postos como escabelo dos seus pés. Porque, com uma única oblação, Ele tornou perfeitos para sempre os que Ele santifica. Onde há remissão dos pecados, já não há necessidade de oblação pelo pecado.
Evangelho (Mc 13, 24-32)
 
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Naqueles dias, depois de uma grande aflição,  o sol escurecerá e a lua não dará a sua claridade; as estrelas cairão do céu e as forças que há nos céus serão abaladas.  Então, hão- -de ver o Filho do homem vir sobre as nuvens, com grande poder e glória. Ele mandará os Anjos, para reunir os seus eleitos dos quatro pontos cardeais, da extremidade da terra à extremidade do céu. Aprendei a parábola da figueira: quando os seus ramos ficam tenros e brotam as folhas, sabeis que o Verão está próximo. Assim também, quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o Filho do homem está perto, está mesmo à porta. Em verdade vos digo: Não passará esta geração sem que tudo isto aconteça. Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão. Quanto a esse dia e a essa hora, ninguém os conhece: nem os Anjos do Céu, nem o Filho; só o Pai».
Uma mensagem de esperança 
1. O tema escatológico. Estamos no penúltimo domingo do ano liúrgico. Hoje surge o tema escatológico que, de acordo com a tradição bíblica, é tratado em linguagem apocalíptica. Marcos, que não é nada pródigo em discursos, dedica o capítulo 13 do seu evangelho ao discurso escatológico de Jesus. A esse capítulo pertence o evangelho de hoje, em que distinguimos duas secções: a) Segunda vinda de Cristo com poder e majestade. Secção cheia de imagens e citações veterotestamentárias, contendo uma descrição apocalíptica pavorosa, cujos termos não se devem entender literalmente. O que se realça é a profunda comoção que essa vinda do Filho do Homem, título messiânico referido a Jesus,  causará no homem,  na história e  na cria-
ção. b) Parábola da figueira, para recomendar discernimento e espera vigilante. A figueira cujas folham brotam é sinal da salvação trazida pelo Senhor. Ele reunirá no seu reino os eleitos, vindos dos quatro pontos cardeais.
A primeira leitura também transmite uma mensagem de esperança. Foi tirada do «apocalipse» do livro de Daniel, escrito no sécuto II a.C., durante a perseguição de Antíoco IV, o Epifânio, que mandou colocar a estátua do Zeus olímpico no templo de Jerusalém. Isto provocou a revolta do sacerdote Matatias e dos Macabeus.  O profeta anunciava a salvação do povo, a ressurreição «dos que dormem no pó» e a retribuição individual segundo os méritos próprios,  algo novo no Antigo Testamento.  Escatologia é uma palavra de origem grega que significa «estudo das realidades últimas». Mas a escatologia cristã não se reduz nem coincide totalmente com as últimas realidades, em termos cronológicos, pois tem duas dimensões: presente e futura. Isto é, o futuro já começou porque o início da última hora dá-se no momento presente, desde que, com a primeira vinda, Jesus inaugurou o reino de Deus. É a dimensão atual. E, contudo, no fim dos tempos, com a segunda vinda de Cristo terá lugar a consumação gloriosa do que já começou agora. É a dimensão futura e última.
 
2. O género apocalíptico, por sua vez, é um género literário bíblico com linguagem própria. Nas descrições apocalípticas não se deve dar valor literal a cada detalhe e fenómeno cósmico. A imagética catastrofista, própria destegénero, é linguagem simbólica ao serviço de uma ideia base: o mundo não é eterno, terá um fim, como a humanidade, a quem se oferece a salvação de Deus, por meio de Cristo, que voltará no fim dos tempos, em glória e poder.
Em cada ano litúrgico a palavra dos primeiros e últimos domingos é retirada de textos apocalípticos do discurso escatológico de Jesus, cujo ponto de arranque nos três evangelhos sinópticos − Mateus, Marcos e Lucas − é a admiração dos apóstolos  sobre o templo de Jerusalém.  Interessa,  pois,  conhecer as características do género apocalíptico nos sinópticos. À parte algumas diferenças óbvias entre eles, eis as coincidências fundamentais dos três evangelistas:  1) Nos três sinópticos o  discurso escatológico é uma composição literária que agrupa e sistematiza,  com finalidade didática e catequé
tica, um mosaico de frases pronunciadas por Jesus em várias ocasiões. 2) A vinda última de Cristo e o juízo final, anunciados à base de parábolas, constituem um acontecimento positivo, cósmico e universal sem deixar de ser pessoal. Não é anúncio de terror, mas de libertação; daí a espera vigilante do crente. 3) A ignorância total dessa segunda vinda de Cristo desautoriza qualquer curiosidade, milenarismo e especulação adventista. 
3. A mensagem da esperança cristã. Há duas maneiras incompletas, e por isso mesmo incorretas, de entender e viver a esperança cristã que brota do anúncio escatológico: a fixação no passado e a espera futurista.
a) Fixação no passado. Estão errados os que pensam que anunciar a libertação de Cristo é apenas recordar o passado da salvação. Na palavra e na liturgia sacramental, os acontecimentos salvadores que celebramos atualizam-se pela ação de Cristo e pela fé da comunidade.
b) Espera futurista. Há outros que se limitam à espera do futuro consumado. Para eles, a esperança teologal centra-se na vida eterna. O presente tem caráter provisório. Por isso, dizem não ao compromisso temporal da fé e vivem ausentes do mundo, alheios aos problemas do momento. O Concílio Vaticano II denuncia abertamente esta atitude como errónea (GS 43).
c) O equilíbrio e a síntese do passado e do futuro na hora do presente é a visão exata e completa da esperança libertadora que brota do anúncio escatológico. O presente é o único tempo que temos, pelo menos por agora. Portanto, nele têm de radicar as promessas de Deus, para que efetivamente a nossa fé-que-espera tenha consistência. Nesta hora da Igreja e do Espírito tudo é presença e graça do Senhor, no aqui e agora do nosso mundo. É o «já» do projeto salvador de Deus que está em desenvolvimento desde a encarnação do seu Filho, Jesus Cristo, mas que «ainda não» está consumado e completo. Neste entretanto da Igreja, o papel da fé, alertada pela espera vigilante, é descobrir Deus que está a vir constantemente ao mundo dos homens, como antecipação da última vinda. Para captar essas vindas de Deus faz falta um recetor que capte as ondas. Infelizmente os critérios mundanos interferem  continuamente e o  sinal de  frequência perde-se.  Por isso a vigilância e a oração, a esperança e o discernimento devem andar sempre unidos na vida cristã.
Glória a Ti, Senhor, porque durante a tua curta ausência
confias em nós e nos aconselhas a tarefa vigilante
de um amor que não dorme já que há tanto que fazer.
Ensina-nos a unir produtivamente a esperança e o esforço,
para acelerar o dia venturoso da vinda do teu reino.
 
Ajuda-nos também, Senhor,
a descobrir as tuas constantes vindas
no decurso da história de cada dia e de cada hora do mundo,
no irmão que precisa da nossa ajuda e carinho,
nos homens e mulheres que sofrem, esperam e Te procuram,
para que caminhando juntos na esperança da nova terra
alcancemos o novo céu em que habita a tua justiça. Ámen.
 
(in: ‘A Palavra de Cada Domingo’ de B. Caballero)
O  FUTURO  PREPARA-SE  NO  PRESENTE

 
Para reflexão
 
1. Perante a fragilidade das coisas que vão passando,  consigo manter a serenidade,  evitando o pessimismo e o desânimo?
2. Porque é que as coisas e os acontecimentos da vida presente, apesar do seu caráter passageiro, devem ser tomadas a sério, como sendo importantes para a realização do nosso destino eterno?
3. O que é que justifica a esperança e o otimismo que o cristão deve manter, perante as ameaças do presente e as incertezas do futuro? 
Para a vida
 
No meio das coisas e acontecimentos que passam, olhar sempre para o essencial − aquilo que pode valer para uma eternidade feliz.


Paróquia de S. Bartolomeu do Beato
           
     Nº 103
                                  
      XXXII DOMINGO COMUM
 
       ANO B − 11 de Novembro de 2012
 
Palavra  de  Deus














1.ª Leitura (1 Reis 17, 10-16)
Naqueles dias, o profeta Elias pôs-se a caminho e foi a Sarepta. Ao chegar às portas da cidade,  encontrou uma viúva  a apanhar lenha. Chamou-a  e disse-lhe: «Por favor, traz-me uma bilha de água para eu beber». Quando ela ia a buscar a água, Elias chamou-a e disse: «Por favor, traz-me também um pedaço de pão». Mas ela respondeu: «Tão certo como estar vivo o Senhor, teu Deus, eu não tenho pão cozido, mas somente um punhado de farinha na panela e um pouco de azeite na almotolia. Vim apanhar dois cavacos de lenha, a fim de preparar esse resto para mim e meu filho. Depois comeremos e esperaremos a morte». Elias disse-lhe: «Não temas; volta e faz como disseste. Mas primeiro coze um pãozinho e traz-mo aqui. Depois prepararás o resto para ti e teu filho. Porque assim fala o Senhor, Deus de Israel: ‘Não se esgotará a panela da farinha, nem se esvaziará a almotolia do azeite, até ao dia em que o Senhor mandar chuva sobre a face da terra’». A mulher foi e fez como Elias lhe mandara; e comeram ele, ela e seu filho. Desde aquele dia, nem a panela da farinha se esgotou, nem se esvaziou a almotolia do azeite, como o Senhor prometera pela boca de Elias. 
Salmo Responsorial – (145)
Refrão – Ó minha alma, louva o Senhor.

2.ª Leitura (Hebr 9, 24-28)
Cristo não entrou num santuário feito por mãos humanas,  figura do verdadeiro, mas no próprio Céu, para Se apresentar agora na presença de Deus em nosso favor.  E não entrou para  Se oferecer  muitas vezes,  como o sumo sacerdote que entra cada ano no Santuário, com sangue alheio; nesse caso, Cristo deveria ter  padecido muitas vezes,  desde o  princípio do mundo.  Mas Ele manifestou-Se uma só vez, na plenitude dos tempos, para destruir o pecado pelo sacrifício de Si mesmo. E, como está determinado que os homens morram uma só vez e a seguir haja o julgamento, assim também Cristo, depois de Se ter oferecido uma só vez para tomar sobre Si os pecados da multidão, aparecerá segunda vez, sem a aparência do pecado, para dar a salvação àqueles que O esperam. 
Evangelho (Mc 12, 38-44)
Naquele tempo,  Jesus ensinava a multidão, dizendo:  «Acautelai-vos dos escribas, que gostam de exibir longas vestes, de receber cumprimentos nas praças,  de ocupar os  primeiros assentos nas sinagogas e  os primeiros lugares nos banquetes. Devoram as casas das viúvas, com pretexto de fazerem longas rezas. Estes receberão uma sentença mais severa». Jesus sentou-Se em frente da arca do tesouro a observar como a multidão deitava o dinheiro na caixa. Muitos ricos deitavam quantias avultadas. Veio uma pobre viúva e deitou duas pequenas moedas, isto é, um quadrante.  Jesus chamou os discípulos e disse-lhes: «Em verdade vos digo: Esta pobre viúva deitou na caixa mais do que todos os outros. Eles deitaram do que lhes sobrava, mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver».
A qualidade sobre a quantidade 
1. Duas mulheres pobres e generosas.  A palavra deste  domingo apresenta-nos duas mulheres crentes e generosas, pessoas insignificantes que, nos dias de hoje, não seriam entrevistadas por jornalistas, nem perseguidas pelas câmaras, nem apareceriam nas revistas do coração, pois não são jovens nem belas,  não têm sangue azul  nem pertencem à alta sociedade,  não são influentes nem ricas. São viúvas e pobres e pertenciam a um grupo social que encarnava a  desgraça e o  cúmulo do  infortúnio naquela sociedade.  Costumavam ser alvo da pobreza,  da injustiça e da exploração;  mas eram objeto preferencial da atenção do Senhor que, como proclama o salmo responsorial deste domingo, «faz justiça aos oprimidos, dá pão aos que têm fome, ampara o órfão e a viúva, e entrava o caminho aos pecadores» (Salmo 145). Para experimentar esta  esplêndida  generosidade de  Deus,  temos de confiar plenamente n'Ele. Foi por isso que as duas mulheres destas  leituras bíblicas foram correspondidas com os favores divinos. A primeira é uma viúva de Sarepta, cidade fenícia no sul do Sídon (hoje Líbano). Ela foi uma das vítimas da fome provocada por uma terrível seca de três anos e meio, no tempo do profeta Elias (séc IX a.C.). Tal como Elias anunciou, esse foi o castigo de Deus para Israel, por causa do culto idolátrico a Baal, Deus da fecundidade da terra, introduzido pelo Rei Acab e sua esposa, a fenícia Jezabel. A pobre viúva confiou na palavra do homem de Deus e partilhou com ele o último pão que tinha. A generosidade foi compensada: nem a panela da farinha se esgotou, nem a almotolia do azeite se esvaziou enquanto durou a fome e a seca.
2. A matemática de Deus. A segunda é uma pobre viúva que deposita na caixa do tesouro do templo de Jerusalém o pouco que possui.  O relato evangélico é admirável: «Jesus sentou-se em frente da arca do tesouro a observar como a multidão deitava o dinheiro na caixa. Muitos ricos deitavam quantias avultadas. Veio uma pobre viúva e deitou duas pequenas moedas, isto é, um quadrante. Jesus chamou os discípulos e disse-lhes: "Em verdade vos digo: Esta pobre viúva deitou na caixa mais do que todos os outros. Eles deitaram do que lhes sobrava, mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver"». A avaliação de Deus, de gestos como estes, não se mede pelo critério habitual, a quantidade, mas pelo significado intencional, a mais-valia pessoal acrescentada. Na «aposta» em Deus, aquela pobre mulher jogou tudo o que possuía. Por isso, mesmo tendo dado apenas duas pequenas moedas, «deitou na caixa mais do que todos os outros», disse Jesus.
Assim é a matemática de Deus. Esta pobre viúva entrou no reino de Deus pela porta grande da bem-aventurança dos pobres que, vazios de tudo e de si mesmos, estão totalmente disponíveis para Deus. Nos dois casos bíblicos de hoje, a qualidade pessoal, a atitude de partilhar o que se tem e a doação de si mesmo, incluídas no gesto de ambas as viúvas, contaram mais para Deus do que a quantidade material das respetivas ofertas, perfeitamente insignificantes em ambos os casos: um pequeno pão e uns trocados. 
3. A melhor maneira de expressar o amor.  O evangelho do  domingo  passado ensinava-nos que o cristianismo é uma religião baseada no amor. O de hoje, com a figura central da viúva generosa, diz-nos que o cristianismo é a religião do dar, mais, do dar-se a si mesmo. Porque esta é a melhor maneira de expressar o amor. Para não incorrer na hipocrisia dos escribas e fariseus, condenada por Jesus − primeira parte do evangelho de hoje −  o dom oferecido a Deus deve expressar a entrega pessoal do oferente, como no caso da viúva e das duas moedas. Na verdade, para que um presente seja símbolo do nosso amor a uma pessoa  deve incluir algo de autodoação.  Sendo sinceros, temos de reconhecer que quase nunca damos o que nos faz falta para viver. Contentamo-nos em dar o que nos sobra.  Com essa esmola tanquilizamo-nos e evitamos ter que nos dar a nós próprios aos que precisam de calor humano e de acolhimento, companhia e tempo, alegria e conselho, sorriso e amor. Jesus observava, sentado em frente à caixa do templo, todos davam o que lhes sobrava; até que chegou a viúva do quadrante, que deu com uma generosidade, como ninguém tinha feito, porque ficou sem nada para viver. Longo alcance o do evangelho de hoje para aprender a conjugar o verbo dar e não tanto os verbos pedir e exigir. Jesus precedeu-nos com o exemplo. Ele veio para dar a vida e para nos enriquecer com a Sua pobreza. Apesar de nada ter, nem sequer onde reclinar a cabeça, passou a vida dando a todos: saúde, visão, luz, verdade, esperança e alegria. E acabou dando-se a Si mesmo, inteiramente, no sacrifício que renovamos na Eucaristia (2.ª leit.).

 
Louvamos-Te, Pai, porque na viúva pobre e generosa
Cristo mostrou-nos um exemplo vivo de religião verdadeira,
modelo de adoração e entrega que Ele praticou e Tu preferes.
As nossas calculadoras não coincidem com a tua matemática, Senhor,
porque onde nós somamos quantidade, Tu multiplicas qualidade.
 
Ensina-nos a conjugar os verbos dar e partilhar,
para entregar aos outros amor e acolhimento, respeito e sorrisos,
amizade e tempo, compreensão e felicidade, alegria, vida e pão.
 
Dá-nos, Senhor, uma fé que nos leve ao desprendimento e
à autodoação e concede-nos a generosidade dos pobres,
para que nos entreguemos por inteiro a Ti e aos irmãos.
Ámen.
  
(in: ‘A Palavra de Cada Domingo’ de B. Caballero)
 
A  MEDIDA  DO  DAR  É  DAR  SEM  MEDIDA

Para reflexão
 
1. Quando faço as minhas ofertas na Igreja, pareço-me mais com os fariseus ou com a viúva pobre, elogiada por Jesus?
2. Quando contribuo para situações de carência, dou apenas do que me sobra ou partilho mesmo o que me possa fazer falta?
3. Contento-me com dar dinheiro e outras  coisas?  Estou  disposto a  dar-me a mim mesmo empenhando-me com amor no serviço dos outros, sempre que necessário?
 
Para a vida
 
Pôr-me todo, com muito amor, nas ofertas que faço e nos serviços que presto, por mais simples que eles sejam.



­      FOLHA  DOMINICAL
 
Paróquia de S. Bartolomeu do Beato
           
Nº 102
                                  
XXXI DOMINGO COMUM
 
ANO B − 4 de Novembro de 2012
 
 














 
Palavra  de  Deus
1.ª Leitura (Deut 6, 2-6)
 
Moisés dirigiu-se ao povo, dizendo: «Temerás o Senhor, teu Deus, todos os dias da tua vida, cumprindo todas as suas leis e preceitos que hoje te ordeno, para que tenhas longa vida, tu, os teus filhos e os teus netos. Escuta, Israel, e cuida de pôr em prática o que te vai tornar feliz e multiplicar sem medida na terra onde corre leite e mel, segundo a promessa que te fez o Senhor, Deus de teus pais. Escuta, Israel: o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. As palavras que hoje te prescrevo ficarão gravadas no teu coração».
 
Salmo Responsorial – (17)

Refrão – Eu Vos amo, Senhor: Vós sois a minha força.
 
2.ª Leitura (Hebr 7, 23-28)
 
Irmãos: Os sacerdotes da antiga aliança sucederam-se em grande número, porque a morte os impedia de durar sempre. Mas Jesus, que permanece eternamente, possui um sacerdócio eterno. Por isso pode salvar para sempre aqueles que por seu intermédio se aproximam de Deus,  porque vive perpetuamente para interceder por eles. Tal era, na verdade, o sumo sacerdote que nos convinha: santo, inocente, sem mancha, separado dos pecadores e elevado acima dos céus, que não tem necessidade, como os sumos sacerdotes de oferecer cada dia sacrifícios, primeiro pelos seus próprios pecados, depois pelos pecados do povo, porque o fez de uma vez para sempre quando Se ofereceu a Si mesmo. A Lei constitui sumos sacerdotes homens revestidos de fraqueza, mas a palavra do juramento, posterior à Lei, estabeleceu o Filho sumo sacerdote perfeito para sempre.

Evangelho (Mc 12, 28b-34)

Naquele tempo, aproximou-se de Jesus um escriba e perguntou-Lhe: «Qual é o primeiro de todos os mandamentos?». Jesus respondeu: «O primeiro é este: ‘Escuta, Israel: O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças’. O segundo é este: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Não há nenhum mandamento maior que estes». Disse-Lhe o escriba: «Muito bem, Mestre! Tens razão quando dizes: Deus é único e não há outro além d’Ele. Amá-l’O com todo o coração, com toda a inteligência e com todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, vale mais do que todos os holocaustos e sacrifícios». Ao ver que o escriba dera uma resposta inteligente, Jesus disse-lhe: «Não estás longe do reino de Deus». E ninguém mais se atrevia a interrogá-l’O.

Uma religião baseada no amor

 
1. O primeiro e maior mandamento. Tanto o evangelho como a primeira leitura de hoje realçam o amor como essência da religião. Jesus amplia o campo desse amor: não só é Deus, como também o próximo. Por estar baseado no amor, o cristianismo é uma religião positiva, necessariamente. Na passagem do evangelho, um escriba pergunta a Jesus qual o primeiro de todos os mandamentos. A maior novidade na resposta de Jesus, que cita o texto da primeira leitura, é a união que estabelece entre amor a Deus (primeiro mandarnento) e amor ao irmão (segundo). Interrogado sobre o primeiro mandamento, Jesus acrescenta o segundo, que é «semelhante ao primeiro» (Mt 22,39). Ficam assim unidos e equiparados, porque Deus, que é amor, fez todos os homens à sua imagem e semelhança, livres e iguais em dignidade e destino. E o homem, reflexo de Deus, foi feito para amar tudo o que Deus ama. Então, Ele, que é Pai de todos, ama o homem que criou; e ama-o tanto que entrega o seu próprio Filho, feito homem. Jesus Cristo, palavra e imagem de Deus, converte-se, assim, em revelação pessoal da bondade de Deus. A partir da encarnação do Filho de Deus − Jesus Cristo, que assumiu a nossa condição humana −, amar o homem é amar a Deus, porque é querer Cristo, o irmão mais velho, que Se identifica com todos os seres humanos, especialmente com os pobres e os que sofrem. Daí que São João conclua: Aquele que diz amar a Deus e não ama o irmão é mentiroso. Para alguns, o catolicismo é uma religião negativa porque, segundo eles, diz não, por exemplo, ao divórcio, ao aborto e às relações sexuais livres. Mas, de facto, está a dizer sim ao amor fiel, maduro, plenificante, sim à vida, à dignidade e à vocação superior da pessoa.

 
2. O Cristianismo é a religião do sim à vida e ao homem por estar fundado no amor. Não pode ser negativa uma religião que Jesus baseou no amor, pois o amor cria vida à volta. São inumeráveis os textos neotestamentários que, de uma ou outra forma, falam do amor como algo essencial à religião cristã, tanto que foi frequente opor o Antigo e Novo Testamentos como alianças de temor e de amor, respetivamente. Mas essa oposição, de facto, não existe, pois já no Antigo Testamento se combinavam dialeticamente o amor e temor de Deus, acentuando o temor/respeito que é o princípio da sabedoria. Esta, por sua vez, consiste em guardar a lei do Senhor, amando-O sobre todas as coisas (1.ª leit.). No Novo Testamento, sem esquecer o santo temor de Deus, prevalece o amor desinteressado. O modo de amar a Deus, além de guardar os seus mandamentos, como lembra Jesus no discurso de despedida, é amar o homem, nosso irmão. A fé em Deus é vida que o crente tem de testemunhar e difundir. Tarefa fascinante e urgente num mundo difícil e não-solidário como o atual. Neste contexto social, proclamar e testemunhar uma mensagem de vida e de amor é suscitar uma brisa refrescante, que cria um oásis no meio do deserto calcinado. O crente deve ser um especialista em amar e ajudar os outros, como Jesus e os seus melhores discípulos, os santos. Um grão de amor cria mais vida do que toneladas de fria inteligência. A experiência revela que o amor é a força secreta de muitas pessoas simples, que não captam a atenção pelas suas qualidades deslumbrantes, mas irradiam vida à sua volta, e estão abertas, generosamente, aos outros em atitude de fraternidade e simpatia. Por outro lado, também é um facto inegável que, por preguiça, por egoísmo, por falta de atenção interior, cada um de nós tem muitas possibilidades de amar a Deus e aos irmãos para explorar. São os talentos que não cultivamos. 













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3. O amor é a base. O escriba do episódio do evangelho de hoje concluiu o diálogo com Jesus dizendo:  «Deus é único e  não há outro além d'Ele.  Amá-I'O com todo o coração, com toda a inteligência e com todas as forças, e amar o próximo como a si rnesmo, vale mais do que todos os holocaustos e sacrifícios», afirmação que mereceu o agrado do Senhor, por «ver que o escriba dera uma resposta inteligente». O amor é mais importante do que a prática cultual.  O perigo de uma prática religiosa formulista, que põe mais ênfase no  cumprimento do que  no amor,  é tópico  permanente de uma conversão inacabada. O primeiro e mais importante de tudo é o amor, primeiro valor na economia de  Deus e  na vida comunitária.  É o amor  que  temos de sublinhar nas tensões que surgem na Igreja e em toda a comunidade cristã, familiar e religiosa.  Necessitamos de  sinceridade  para nos examinarmos sobre o amor, a realidade central, e, também, de estar alerta para não sermos manipulados pelo messianismo da  propaganda ideológica e  pela tirania consumista, que desintegram tanta gente, como o homem da Guernica de Pablo Picasso.  Perante tal dispersão dos nossos centros de interesse, temos de fazer um longo caminho para  perguntar qual é a nossa motivação religiosa fundamental. E a resposta não pode ser outra senão o amor, como nos propõe Jesus: «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças. E ao próximo como a ti mesmo». Eis o que dá sentido, coesão e valor à vida e à religião.

Bendizemos-Te, Pai, porque Jesus resume toda a tua lei
num só mandamento, centrado no amor a Ti e ao próximo.
Obrigado, também, porque o teu Espírito permite-nos amar-Te como filhos
E abrir-nos ao irmão, completando o círculo do amor em Cristo.
 
Reconhecemos-Te, Senhor, como nosso verdadeiro e único Deus
a Quem devemos amar e servir com todo o ser, alma e coração.
E queremos também cumprir o mandato e testamento de Jesus:
Amai-vos uns aos outros como eu vos amei; assim sereis meus discípulos.
 
Ajuda-nos, Senhor a abandonar os ídolos do nosso egoísrno
para nos centrarmos no mandamento principal e primeiro, porque
amar-Te, a Ti e ao próximo, é cumprir a tua lei, totalmente.
Ámen.
 
(in: ‘A Palavra de Cada Domingo’ de B. Caballero)
 
AMAR,  AMAR...  MAS  A QUEM  E COMO?
 
Para reflexão
1. Deus deve ser o primeiro amor. Posso dizer que Lhe dou o primeiro lugar na minha vida, amando-O de verdade e de todo o coração e com todas as minhas forças?
2. Todo o que for o meu próximo tem direito ao meu amor, em Deus e por Deus. Posso garantir que não nego a ninguém o meu amor? E que não amo ninguém sem ser por Deus e em Deus?
3. De entre os que são o meu próximo, uns estão perto e outros estão longe. Como posso mostrar que amo também os que estão longe?
 
Para a vida
Examinar-me sobre o modo como amo, para amar em Deus os que devo amar e evitar todo o amor que seja infidelidade ou traição.

­      FOLHA  DOMINICAL
                     
                           Paróquia de S. Bartolomeu do Beato
           
Nº 101
                                  
XXX DOMINGO COMUM
 
ANO B − 28 de Outubro de 2012
Palavra  de  Deus
1.ª Leitura (Jer 31, 7-9)
Eis o que diz o Senhor:  «Soltai brados de alegria por causa de Jacob, enaltecei a primeira das nações. Fazei ouvir os vossos louvores e proclamai: ‘O Senhor salvou o seu povo, o resto de Israel’.  Vou trazê-los das terras do Norte e reuni-los dos  confins do  mundo.  Entre eles vêm o cego e o coxo,  a mulher que vai ser mãe e a que já deu à luz.  É uma grande multidão que regressa. Eles partiram com lágrimas nos olhos, e Eu vou trazê-los no meio de consolações. Levá-los-ei às águas correntes, por caminho plano em que não tropecem. Porque Eu sou um Pai para Israel, e Efraim é o meu primogénito».
Salmo Responsorial – (125)
Refrão – O Senhor fez maravilhas em favor do seu povo.

2.ª Leitura (Hebr 5, 1-6)
Todo o sumo sacerdote, escolhido de entre os homens, é constituído em favor dos homens, nas suas relações com Deus,  para oferecer dons e sacrifí-
cios pelos pecados. Ele pode ser compreensivo para com os ignorantes e os transviados, porque também ele está revestido de fraqueza; e, por isso, deve oferecer sacrifícios pelos próprios pecados e pelos do seu povo. Ninguém atribui a si próprio esta honra, senão quem foi chamado por Deus, como Aarão. Assim também, não foi Cristo que tomou para Si a glória de Se tornar sumo sacerdote; deu-Lha Aquele que Lhe disse: «Tu és meu Filho, Eu hoje Te gerei», e como disse ainda noutro lugar: «Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec».

Evangelho (Mc 10, 46-52)
Naquele tempo, quando Jesus ia a sair de Jericó com os discípulos e uma grande multidão, estava um cego,  chamado Bartimeu, filho de Timeu, a pedir esmola à beira do caminho. Ao ouvir dizer que era Jesus de Nazaré que passava, começou a gritar: «Jesus, Filho de David, tem piedade de mim». Muitos repreendiam-no para que se calasse. Mas ele gritava cada vez mais: «Filho de David, tem piedade de mim». Jesus parou e disse: «Chamai-o». Chamaram então o cego e disseram-lhe: «Coragem! Levanta-te, que Ele está a chamar-te». O cego atirou fora a capa, deu um salto e foi ter com Jesus. Jesus perguntou-lhe: «Que queres que Eu te faça?». O cego respondeu-Lhe: «Mestre, que eu veja». Jesus disse-lhe: «Vai: a tua fé te salvou». Logo ele recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho.
Crer para ver
 Do episódio evangélico de hoje, conclui-se que uma fé que é capaz de curar a cegueira não é cega, mas o contrário: é luz que ilumina a vida do homem. Nem a fé cristã nem a obediência religiosa são renúncia à racionalidade e à responsabilidade pessoal.
Crer para ver e amar para crer. Eis os dois tempos de um mesmo ritmo. Claro que, para conseguir isto, teremos de repetir com frequência a oração de fé do cego do caminho: Senhor, que eu possa ver, que Te veja presente no curso da vida, nos homens e nos factos diários para descobrir os sinais da tua presença e do teu chamamento amoroso.
 
DAS TREVAS DA INCREDULIDADE À LUZ DA FÉ
Para reflexão
 
1. Procuro  apoiar as  instituições que se  dedicam à recuperação de invisuais?
2. Tenho a humildade de reconhecer que sofro de alguma cegueira interior, por nem sempre me dispor a aceitar a verdade, sobretudo em coisas de fé e de moral?
3. Procuro estar atento à passagem do Senhor pelos caminhos da minha vida? Alguma vez Lhe fechei deliberadamente os olhos, para fingir que não O via? 
Para a vida
Fazer uso correto da graça de ter olhos, no corpo e no coração, evitando todo o olhar invejoso ou impuro e admirando o que de bom vejo nas pessoas e o que de belo vejo nas coisas.

FOLHA  DOMINICAL
 
Paróquia de S. Bartolomeu do Beato

           
Nº 100

                                  
XXIX DOMINGO COMUM

 
ANO B − 21 de Outubro de 2012


  


















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1.ª Leitura (Is 53, 10-11)
Aprouve ao Senhor esmagar o seu Servo pelo sofrimento. Mas, se oferecer a sua vida como vítima de expiação, terá uma descendência duradoira, viverá longos dias, e a obra do Senhor prosperará em suas mãos. Terminados os sofrimentos, verá a luz e ficará saciado. Pela sua sabedoria, o Justo, meu Servo, justificará a muitos e tomará sobre si as suas iniquidades.
 
Salmo Responsorial – (32)
Refrão – Desça sobre nós a vossa misericórdia,
  porque em Vós esperamos, Senhor.
 
2.ª Leitura (Hebr 4, 14-16)
Irmãos: Tendo nós um sumo sacerdote que penetrou os Céus, Jesus, Filho de Deus, permaneçamos firmes na profissão da nossa fé. Na verdade, nós não temos um sumo sacerdote incapaz de se compadecer das nossas fraquezas. Pelo contrário, Ele mesmo foi provado em tudo, à nossa semelhança, excepto no pecado. Vamos, portanto, cheios de confiança ao trono da graça, a fim de alcançarmos misericórdia e obtermos a graça de um auxílio oportuno.
 
Evangelho (Mc 10, 35-45)
Naquele tempo, Tiago e João, filhos de Zebedeu, aproximaram-se de Jesus e disseram-Lhe: «Mestre, nós queremos que nos faças o que Te vamos pedir». Jesus respondeu-lhes: «Que quereis que vos faça?». Eles responderam: «Concede-nos que, na tua glória, nos sentemos um à tua direita e outro à tua esquerda». Disse-lhes Jesus: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu vou beber e receber o baptismo com que Eu vou ser baptizado?». Eles responderam-Lhe: «Podemos».  Então Jesus disse-lhes: «Bebereis o cálice que Eu vou beber e sereis baptizados com o baptismo com que Eu vou ser baptizado. Mas sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não Me pertence a Mim concedê-lo; é para aqueles a quem está reservado». Os outros dez, ouvindo isto, começaram a indignar-se contra Tiago e João. Jesus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis que os que são considerados como chefes das nações exercem domínio sobre elas, e os grandes fazem sentir sobre elas o seu poder. Não deve ser assim entre vós: quem entre vós quiser tornar-se grande, será vosso servo, e quem quiser entre vós ser o primeiro, será escravo de todos; porque o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida pela redenção de todos». 
Para ser grande na comunidade de Jesus
1. Autoridade como serviço. No evangelho deste domingo notamos três secções: 1. ª, desejo de poder por parte de Tiago e João; 2.ª, resposta de Jesus aos dois irmãos. Nas imagens do cálice e do baptismo há uma referência à paixão do Senhor, cujo terceiro anúncio precede imediatamente o evangelho de hoje. 3.ª, instrução de Jesus a todos os apóstolos sobre a autoridade como serviço (é a leitura abreviada). A primeira secção do evangelho de hoje faz eco da discussão que os discípulos tiveram logo a seguir ao segundo anúncio da paixão de Jesus, sobre qual deles seria o maior no futuro reino do Messias. Agora, novamente, depois do terceiro anúncio, surge o tema do desejo dos primeiros lugares, por parte de Tiago e João. Os dois irmãos querem tomar a dianteira e suscitam a indignação dos outros dez apóstolos, por tão desleal competição e tão grande ambição. O pano de fundo é a esperança dos apóstolos num messias político, esperança essa comum a todos os judeus. Cristo aproveita esta ocasião para doutrinar os apóstolos, futuros guias e pilares do seu povo, sobre a função que terão de desempenhar na comunidade. Uma vez mais, Jesus subverte os esquemas convencionais: «Sabeis que os que são considerados como chefes das nações exercem domínio sobre elas e os grandes fazem sentir sobre elas o seu poder. Não deve ser assim entre vós: quem entre vós quiser tornar-se grande, será o vosso servo, e quem quiser entre vós ser o primeiro, será escravo de todos». A autoridade e a responsabilidade, e mesmo a fraternidade, no grupo dos seguidores de Cristo é sinónimo de serviço. O domínio, o autoritarismo e a ambição de poder não têm lugar na comunhão eclesial. 
2. O exemplo de Jesus. Cristo contrapõe dois estilos de autoridade diametralmente opostos: mandar, dominando ou servir, sem passar a fatura. O primeiro era a ideia original dos apóstolos e é o modelo habitual da sociedade civil, por muito democrátíca que pareça; o segundo é o modelo de autoridade que Jesus quer para a Igreja e que Ele próprio praticou. Perante tão surpreendente e paradoxal doutrina, Cristo fala de Si mesmo como motivação e exemplo vivo: «Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para dar a vida pela redenção de todos». E Jesus não ficou apenas pelas palavras. Mesmo sabendo que Ele era o Senhor, e que o Pai tinha posto tudo nas suas mãos, entende e pratica a autoridade como serviço de amor e com humildade. Assim, por exemplo, na última ceia, Jesus adota o papel de servo e põe-se a lavar os pés aos discípulos. O convite com que terminou este gesto: «Fazei vós o mesmo» é um apelo a todos os membros da comunidade eclesial, hierarquia e fiéis, a seguir o seu exemplo de serviço aos irmãos, especialmente àqueles que mais precisam de amor como são os mais débeis, pobres e deserdados. Imitando o modelo que é Cristo, o amor serviçal aos irmãos chegará, inclusive, à doação da própria vida, como expressão máxima que manifesta solidariedade humana total e permanente. Uma vida assim culmina no ato supremo de serviço ao reino de Deus, como fez Cristo, e depois d'Ele, os apóstolos e os santos.
3. Vontade de serviço, e não de poder, tem de ser, nos dias que correm, o testemunho profético inelidível da comunidade cristã como grupo, e de cada fiel como discípulo. De facto, custa-nos muito dessacralizar qualquer forma de poder e despolitizar a religlão, limpando-a de qualquer messianismo terreno. Tudo isto por causa do lastro de séculos, e mesmo de milénios, como  múltiplas  metamorfoses de um  único embrião.  Todas as culturas pré-cristãs conhecidas sacralizaram o poder e divinizaram as pessoas dos faraós, no Egipto, dos reis, no Oriente e dos césares e imperadores, no Ocidente. Mesmo a Igreja, desde o séc. IV, com Constantino, no Ocidente, e Teodósio, no Oriente, e durante a Alta Idade Média, sacralizou imperadores e politizou ou temporalizou o serviço espiritual de Papas e bispos. Criou-se, assim, a mais perfeita confusão de competências, esferas e níveis espirituais e temporais. Infelizmente, a situação repetiu-se ao longo da história da Igreja cada vez que se deformou o sentido, âmbito e consumação do reino de Deus. Um reino que não tem o estilo político dos estados e governos deste mundo, como Jesus esclareceu perante o tribunal de Pilatos. A confusão radica, em última análise, em identificar o reino de Deus e o triunfo da lgreja. A lição que Cristo ensina a toda a lgreja, povo e hierarquia, é que a comunidade eclesial está ao serviço do reino de Deus no mundo dos homens; e não para procurar a glória da Igreja e, menos ainda, os interesses temporais da mesma. Pois o reino de Deus não se identifica com o triunfo da Igreja, embora a comunidade cristã tenha de estar ao serviço desse reino. Tal é o conteúdo e a finalidade básica do evangelho de Jesus e do plano salvador de Deus para o mundo, com cujas alegrias e esperanças o povo peregrino de Deus − a Igreja − está solidário. O melhor testemunho da comunidade crente no meio do mundo atual, e a genuína novidade do cristianismo para hoje, é o regresso às fontes do evangelho, isto é, à pessoa e doutrina de Jesus, rei messiânico, e servidor paciente que rompe a rede asfixiante do desejo de poder, para optar, com Ele, pelo serviço, pela fraternidade e pela solidariedade com os mais humildes e marginalizados da sociedade em que vivemos'
 
A GRANDEZA DO SERVIÇO
 
 
 
 
Damos graças, Senhor Deus, nosso Pai, por nos chamares
ao seguimento de Cristo, que inaugurou um mundo novo em que
os primeiros e os maiores são os que servem os outros.
 
Faz, Senhor, que assimilemos o ensinamento e exemplo de Jesus,
e optemos por relações fraternas de amor e serviço mútuo,
abandonando como peso inútil a nossa suposta importância,
aceitando com um sorriso alegre os outros como são
e partilhando as dores, alegrias e esperanças de todos.
 
Cura-nos, Senhor, do nosso egoísmo, soberba e intolerância,
pois queremos viver ao estilo de Jesus: amor sem passar fatura
e servir em teu nome todos os irmãos sem distinção. Ámen. 
 
(in: ‘A Palavra de Cada Domingo’ de B. Caballero)
 
 

 
 
 
FOLHA  DOMINICAL
 
Paróquia de S. Bartolomeu do Beato

           
Nº 99

                                  
XXVIII DOMINGO COMUM

 
ANO B − 14 de Outubro de 2012
 

Palavra  de  Deus

1.ª Leitura (Sab 7, 7-11)

Orei e foi-me dada a prudência; implorei e veio a mim o espírito de sabedoria. Preferi-a aos ceptros e aos tronos e, em sua comparação, considerei a riqueza como nada. Não a equiparei à pedra mais preciosa, pois todo o ouro, à vista dela, não passa de um pouco de areia, e, comparada com ela, a prata é considerada como lodo. Amei-a mais do que a saúde e a beleza e decidi tê-

-la como luz, porque o seu brilho jamais se extingue. Com ela me vieram todos os bens e, pelas suas mãos, riquezas inumeráveis.

 

Salmo Responsorial – (89)

Refrão – Saciai-nos, Senhor, com a vossa bondade

  e exultaremos de alegria.

 

2.ª Leitura (Hebr 4, 12-13)

A palavra de Deus é viva e eficaz, mais cortante que uma espada de dois gumes: ela penetra até ao ponto de divisão da alma e do espírito, das articulações e medulas, e é capaz de discernir os pensamentos e intenções do coração. Não há criatura que possa fugir à sua presença: tudo está patente e descoberto a seus olhos. É a ela que devemos prestar contas.

 

Evangelho (Mc 10, 17-30)

Naquele tempo, ia Jesus pôr-Se a caminho, quando um homem se aproximou correndo, ajoelhou diante d’Ele e Lhe perguntou: «Bom Mestre, que hei-de fazer para alcançar a vida eterna?». Jesus respondeu: «Porque Me chamas bom? Ninguém é bom senão Deus. Tu sabes os mandamentos: ‘Não mates; não cometas adultério; não roubes; não levantes falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe’». O homem disse a Jesus: «Mestre, tudo isso tenho eu cumprido desde a juventude». Jesus olhou para ele com simpa-

tia e respondeu: «Falta-te uma coisa: vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me». Ouvindo estas palavras, anuviou-se-lhe o semblante e retirou-se pesaroso, porque era muito rico. Então Jesus, olhando à volta, disse aos discípulos: «Como será difícil para os que têm riquezas entrar no reino de Deus!». Os discípulos ficaram admirados com estas palavras. Mas Jesus afirmou-lhes de novo: «Meus filhos, como é difícil entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus». Eles admiraram-se ainda mais e diziam uns aos outros: «Quem pode então salvar-

-se?». Fitando neles os olhos, Jesus respondeu: «Aos homens é impossível, mas não a Deus,  porque a Deus  tudo é  possível».  Pedro começou a  dizer-

-Lhe: «Vê como nós deixámos tudo para Te seguir». Jesus respondeu: «Em verdade vos digo: Todo aquele que tenha deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou terras, por minha causa e por causa do Evangelho, receberá cem vezes mais, já neste mundo, em casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e terras, juntamente com perseguições, e, no mundo futuro, a vida eterna».
 

Pobreza libertadora para seguir Cristo
 

1. Necessidade de desprendimento. No evangelho prosseguimos a leitura do capítulo 10 de Marcos, em que Jesus instrui os seus discípulos, enquanto vão subindo com Ele para Jerusalém. Se no domingo passado o tema era a fidelidade conjugal, hoje é a pobreza voluntária para o seguimento de Cristo e pelo reino de Deus.  O evangelho de hoje contém três partes distintas, e a primeira delas motiva a segunda: 1.ª, encontro dum jovem rico com Jesus; 2.ª, ensinamento de  Cristo aos discípulos sobre a riqueza;  3.ª,  recompensa prometida pelo desprendimento.  Um homem rico pergunta a Jesus:  «Bom Mestre,  que hei-de fazer para  alcançar a vida eterna?».  Jesus responde enumerando os mandamentos da lei de Deus. O jovem rico, segundo Mateus 19, 20, diz que os cumpre desde pequeno. Então Jesus, carinhosamente, sugere-lhe que ainda falta cumprir uma coisa: «Vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no reino dos Céus. Depois, vem e segue-Me. Ouvindo estas palavras, anuviou-se-lhe o semblante e retirou-se pesaroso, porque era muito rico». O desenlace do episódio dá a Jesus a oportunidade de instruir os seus discípulos sobre a necessidade de desprendimento dos bens terrenos para alcançar o reino de Deus. Pois não «pôr a confiança no dinheiro» e no que se possui, é tão difícil como um camelo passar pelo buraco da agulha. Por isso os discípulos comentam, com espanto: «Quem pode então salvar-se?» E Jesus reponde-lhes: «Aos homens é impossível, mas não a Deus, porque a Deus tudo é possível».

2. Os perigos da riqueza. Para a mentalidade semita e veterotestamentária a riqueza era sinal do favor divino e constituía um bem, pelo menos, relativo na vida do homem. Mas a esmola ao pobre também era muito aconselhada e
estimada porque «acumulava-se um tesouro no céu».  Mais tarde, Jesus relativizará totalmente a riqueza, prevenindo, até, dos graves riscos, como lemos no evangelho de hoje. Ao ouvi-lo, poderemos pensar que o aviso de Cristo sobre os perigos da riqueza é para os ricos de facto, e não para quantos querem ser discípulos e herdar a salvação de Deus, entrando no seu reino. Trata-se de um ensinamento universal, pois todos temos «alma de rico», mesmo os pobres que estão apegados ao pouco que possuem. O apego aos bens endurece o coração − como aconteceu ao jovem rico do evangelho de hoje −, dificulta as relações com os outros, esfria a fraternidade humana, fecha-nos à partilha com os necessitados, entorpece a solução do problema da fome e da pobreza no mundo, despersonaliza o indivíduo ao torná-lo escravo do seu dinheiro e finalmente, a nível cristão, torna impossível o seguimento de Cristo. Quem se esvazia de si mesmo, diante de Deus e se desprende do apego aos bens terrenos poderá comprovar que não lhe falta nada e ainda sobra, como assegura o Senhor ao apóstolo Pedro, quando este comenta que os discípulos deixaram tudo para O seguir. 
3. Pobreza libertadora para seguir Cristo. Esta é a mensagem, a boa nova do evangelho de hoje,  referenciada na primeira bem-aventurança, denominador comum das outras: a bem-aventurança dos pobres. A pobreza é um con-selho de Jesus para todos que querem segui-l'O, e não algo reservado a uma elite, como poderia ser para os que fazem voto de pobreza na Igreja. A todos os discípulos de Cristo pede-se uma pobreza afetiva e efetiva. Esta atitude de pobreza voluntária que Jesus propõe  liberta-nos da sedução da riqueza e dá-nos uma disponibilidade total perante Deus e uma abertura generosa aos irmãos. Os psicólogos sabem que a felicidade humana não é proporcional à riqueza, ócio e gozo da vida que se possam alcançar, mas em sentir-se realizado como pessoa. Tal sensação de plenitude pessoal não se pode comprar com todo o dinheiro do mundo. Nada vale a sabedoria de vida que orienta a conduta do homem segundo o querer de Deus (1.ª leit.). Jesus já sabia disso, há dois mil anos, quando, ao falar das condições para O seguir, afirmou: «De que serve ao homem ganhar o mundo, se perde a sua própria vida? O que pode um homem dar em troca da sua vida?» (Mt 16, 26). O ensinamento de Cristo não patrocina a miséria da pobreza e do subdesenvolvimento como clima ideal para o reino de Deus, mas sim o desprendimento de quem sabe conformar-se com o necessário e partilhar com os outros o que tem, sem açambarcar para si nem incorrer na idolatria do dinheiro como bem supremo. A libertação que tal pobreza supõe capacita-nos para o seguimento de Cristo e para a procura prioritária do Reino. Cristo acrescentou o seu próprio exemplo ao ensinamento, sendo rico, fez-Se pobre para nos enriquecer com a sua pobreza. A celebração do seu amor na Eucaristia tem de avivar em nós o sentido da pobreza cristã e da solidariedade para com os irmãos mais pobres. Se não o sentirmos, deveremos rever a nossa fé, o nosso culto e o nosso seguimento de Cristo.
 

Glória a Ti, Senhor Jesus, porque o teu olhar amigo nos convida
a seguir-Te em pobreza voluntária no serviço do reino de Deus.
Com mãos livres, sem pesos e vazias de tudo, poderemos
caminhar ao teu lado com urn coração
pobre e totalmente disponível.
 
Ajuda-nos, Senhor, a romper com tudo o que nos ata e avassala,
deixando as nossas seguranças calculistas, tendo fé, arriscando
e seguindo-Te, com a dignidade e a alegria do desprendimento.
 
Tu que tornas possível o que ao homem parecia impossível,
dá-nos o teu Espírito de fortaleza para levar a cabo a tarefa
de ordenar toda a nossa vida em função dos valores do reino.
Assim mereceremos a herança que prometes à pobreza. Ámen.
 
(in: ‘A Palavra de Cada Domingo’ de B. Caballero)
 
 
 
A  VERDADEIRA  SABEDORIA


















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FOLHA  DOMINICAL
       Paróquia de S. Bartolomeu do Beato
           
Nº 98
                                  
XXVII DOMINGO COMUM
 
ANO B − 7 de Outubro de 2012
 



Palavra  de  Deus

1.ª Leitura (Gen 2, 18-24)

Disse o Senhor Deus: «Não é bom que o homem esteja só: vou dar-lhe uma auxiliar semelhante a ele». Então o Senhor Deus, depois de ter formado da terra todos os animais do campo e todas as aves do céu, conduziu-os até junto do homem, para ver como ele os chamaria, a fim de que todos os seres vivos fossem conhecidos pelo nome que o homem lhes desse. O homem chamou pelos seus nomes todos os animais domésticos, todas as aves do céu e todos os animais do campo. Mas não encontrou uma auxiliar semelhante a ele. Então o Senhor Deus fez descer sobre o homem um sono profundo e, enquanto ele dormia, tirou-lhe uma costela, fazendo crescer a carne em seu lugar.  Da costela do homem o Senhor Deus  formou a mulher e apresentou-a ao homem. Ao vê-la, o homem exclamou: «Esta é realmente osso dos meus ossos e carne da minha carne. Chamar-se-á mulher, porque foi tirada do homem».  Por isso,  o homem deixará pai e mãe,  para se unir à sua esposa, e os dois serão uma só carne.
 
Salmo Responsorial – (127)
Refrão – O Senhor nos abençoe em toda a nossa vida.
 
2.ª Leitura (Hebr 2, 9-11)
Irmãos: Jesus, que, por um pouco, foi inferior aos Anjos, vemo-l’O agora coroado de glória e de honra por causa da morte que sofreu, pois era necessário que, pela graça de Deus, experimentasse a morte em proveito de todos. Convinha, na verdade, que Deus, origem e fim de todas as coisas, querendo conduzir muitos filhos para a sua glória, levasse à glória perfeita, pelo sofrimento, o Autor da salvação. Pois Aquele que santifica e os que são santificados procedem todos de um só. Por isso não Se envergonha de lhes chamar irmãos.
Evangelho (Mc 10, 2-16)
Naquele tempo, aproximaram-se de Jesus uns fariseus para O porem à prova e perguntaram-Lhe: «Pode um homem repudiar a sua mulher?». Jesus disse-lhes: «Que vos ordenou Moisés?» Eles responderam: «Moisés permitiu que se passasse um certificado de divórcio, para se repudiar a mulher». Jesus disse-lhes: «Foi por causa da dureza do vosso coração que ele vos deixou essa lei. Mas, no princípio da criação, ‘Deus fê-los homem e mulher. Por isso, o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa, e os dois serão uma só carne’. Deste modo, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu». Em casa, os discípulos interrogaram-n’O de novo sobre este assunto. Jesus disse-lhes então: «Quem repudiar a sua mulher e casar com outra, comete adultério contra a primeira. E se a mulher repudiar o seu marido e casar com outro, comete adultério». Apresentaram a Jesus  umas  crianças  para que Ele  lhes  tocasse,  mas os discípulos afastavam-nas. Jesus, ao ver isto, indignou-Se e disse-lhes: «Deixai vir a Mim as criancinhas, não as estorveis: dos que são como elas é o reino de Deus. Em verdade vos digo: Quem não acolher o reino de Deus como uma criança, não entrará nele». E, abraçando-as, começou a abençoá-las, impondo as mãos sobre elas.
 
Um amor para toda a vida
 
1. Sobre o divórcio. A leitura da versão longa do evangelho de hoje tem duas secções desconexas: 1.ª, Tema do divórcio, suscitado pelos fariseus (leitura breve).  A resposta de Jesus,  afirmando a indissolubilidade  do  casa-
mento, completa-se com a explicação que dá aos discípulos, em casa. 2.ª, Jesus e as crianças: «Em verdade vos digo: Quem não acolher o reino de Deus como uma criança não entrará nele». A nossa atenção vai centrar-se na primeira parte,  com que se relaciona a primeira leitura.  Alguns fariseus intro-
duzem o tema, fazendo uma pergunta capciosa a Jesus sobre a licitude do divórcio, e Ele responde-lhes afirmando rotundamente a indissolubilidade do casamento. Para isso remete-Se ao projeto original de Deus sobre a união do homem e da mulher. Esse plano não coincide com a posterior tolerância da lei de Moisés, que permitia ao homem obter o divórcio desde que entregasse à mulher uma carta de repúdio, uma espécie de ata de liberdade, «por ter descoberto nela algo que o desagradou» (Dt 24,1). Cristo interpreta a lei do divórcio de  Moisés como uma  concessão inevitável devido à dureza de cora-
ção dos judeus. E, com a autoridade da sua palavra, Cristo declara abolida tal lei, ao tornar patente a primeira intenção de Deus em relação aos sexos, ao matrimónio e à família. Projeto divino que não tolera a rutura do vínculo matri-
monial pelo divórcio, como o Senhor explica aos discípulos, em casa.
 
2. O que Deus uniu. A indissolubilidade do matrimónio, segundo Jesus, não surge de uma lei exterior ao mesmo, mas da sua própria natureza. Homem e
mulher são feitos um para o outro, em absoluta igualdade, e ao unir-se em matrimónio, constituem «uma só carne» por disposição divina (1.ª leit.). Por isso conclui:  «Não separe o homem o que Deus uniu».  São Paulo acrescen-
tará depois a referência cristológica e eclesial ao amor dos esposos cristãos, que constitui um sacramento e significa o amor de Cristo à lgreja. De facto, como se vive, hoje, a vocação cristã no matrimónio? Quais são as causas do arrefecimento do amor conjugal, dos problemas e das ruturas que surgem? As causas podem ser  múltiplas e complexas.  Importa ter em conta que o fra-
casso ou êxito matrimonial não se previne nem se resolve juridicamente, pois é um assunto de amor,  um problema pessoal e  com raízes psíquicas e emo-
cionais. Por isso, o melhor meio para a estabilidade do casal e da família é consolidar o projeto matrimonial em cada dia, crescendo cada vez mais no amor e na maturidade pessoal, com tenacidade, reflexão, generosidade. Há um princípio básico na medicina que também aqui tem aplicação: «É melhor prevenir do que curar». Quer dizer, os jovens têm de se preparar para o matrimónio, e os casados hão-de manter sempre um ritmo ascendente. Como? Crescendo continuamente no amor.
3. Para crescer no amor. Uma sólida preparação para o casamento cristão e um cultivar constante do amor conjugal  que garanta estabilidade e êxito compreende, entre outros, três aspetos: a) uma base humana suficiente; b) uma educação contínua no amor; e c) uma espiritualidade cristã.
a) A base humana é indispensável para cimentar a relação. Os jovens noivos, bem como os já casados, precisam de maturidade pessoal «à prova de matrimónio». Amar é dar e partilhar, mais do que receber e desfrutar. Contra este princípio peca-se por falta de responsabilidade e sacrifício, por excesso de leviandade e egoísmo. Um amor matrimonial prometido com a tácita condição de possível separação ou divórcio quando surjam as dificuldades, a doença ou outros imponderáveis, é uma mentira radical ao amor que, só por si, quando é verdadeiro, é total e sem Iimite no tempo. A fórmula «até que a morte nos separe» não tem nada de romantismo insensato.
b) A educação contínua no amor é algo obrigatório para os noivos e esposos. O amor, como as crianças, tem de ir à escola todos os dias. O axioma de que «parar é morrer», em qualquer estado de vida, vale também para o amor. Pois é assim que se cai na rotina, na vulgaridade e na falta de amor. O amor tem de ir crescendo com a passagem dos anos, ao ritmo das diflculdades e dos êxitos, dos filhos que crescem, das tristezas e alegrias partilhadas.
c) A espiritualidade cristã  que brota de uma fé autêntica dá uma ajuda inestimável na bonança e na tempestade. O matrimónio cristão é vocação de santidade. Se o casamento tem algo de contrato, o matrimónio cristão é um sacramento, um sinal eficaz de graça e salvação. Os contraentes fazem entre si a maior oferta do casamento: a graça sacramental. Os casados devem manter-se em contacto com Deus por meio da fé, da oração e da vida cristã. E o Senhor ajuda-los-á a viver a dimensão religiosa do matrimónio cristão em plenitude, proporcionando assim o crescimento contínuo no amor.


















Obrigado, Pai, porque Jesus devolveu à fonte original

o amor entre homem e mulher, o matrimónio e a família,

libertando-os do pesado lastro do egoísmo que o desintegra

e dignificando, ao mesmo tempo, a figura da mulher.

 

Tu estabeleceste a complementaridade dos dois sexos,

e não queres que o homem separe o que uniste para sempre.

Tu que és a fonte do verdadeiro amor e a ele nos chamas,

ensina os jovens e adultos a crescer no amor cristão,

que reflete no matrimónio o de Cristo à lgreja.

 
Àqueles a quem chamas à virgindade pelo reino de Deus

ajuda-os a viver com alegria a fidelidade de cada dia.

Ámen.

  

(in: ‘A Palavra de Cada Domingo’ de B. Caballero)

 

NÃO  SEPARAR  O  QUE  DEUS  UNIU
 



Para reflexão
 
1. Quais são as causas mais frequentes da crise nos casamentos, em nossos dias?
2. Faço alguma coisa para ajudar casais meus conhecidos a ultrapassar as suas crises no relacionamento mútuo?
3. Qual deve ser a atitude dos cristãos em relação aos divorciados que voltam a casar-se civilmente?
4. Porque é que o Senhor nos apresenta as crianças como modelo para acolher o Reino de Deus?
 
Para a vida
 
Na sequência do Evangelho deste domingo, juntar, durante esta semana o casal e seus filhos numa refeição festiva, como sinal de união entre todos, sob o olhar de Deus.
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FOLHA  DOMINICAL

    Paróquia de S. Bartolomeu do Beato






















           
Nº 97
                                  
XXVI DOMINGO COMUM
 
ANO B − 30 de Setembro de 2012
 


 Palavra  de  Deus


1.ª Leitura (Num 11, 25-29)

Naqueles dias, o Senhor desceu na nuvem e falou com Moisés. Tirou uma parte do Espírito que estava nele e fê-lo poisar sobre setenta anciãos do povo. Logo que o Espírito poisou sobre eles, começaram a profetizar; mas não continuaram a fazê-lo. Tinham ficado no acampamento dois homens: um deles chamava-se Eldad e o outro Medad. O Espírito poisou também sobre eles, pois contavam-se entre os inscritos, embora não tivessem comparecido na tenda; e começaram a profetizar no acampamento. Um jovem correu a dizê-lo a Moisés: «Eldad e Medad estão a profetizar no acampamento». Então Josué, filho de Nun, que estava ao serviço de Moisés desde a juventude, tomou a palavra e disse: «Moisés, meu senhor, proíbe-os». Moisés, porém, respondeu-lhe: «Estás com ciúmes por causa de mim? Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor infundisse o seu Espírito sobre eles!».

 

Salmo Responsorial – (18)

Refrão – Os preceitos do Senhor alegram o coração.

 

2.ª Leitura (Tg 5, 1-6)

Agora, vós, ó ricos, chorai e lamentai-vos, por causa das desgraças que vão cair sobre vós. As vossas riquezas estão apodrecidas, e as vossas vestes estão comidas pela traça. O vosso ouro e a vossa prata enferrujaram-se, e a sua ferrugem vai dar testemunho contra vós e devorar a vossa carne como fogo. Acumulastes tesouros no fim dos tempos. Privastes do salário os trabalhadores que ceifaram as vossas terras. O seu salário clama; e os brados dos ceifeiros chegaram aos ouvidos do Senhor do Universo. Levastes na terra uma vida regalada e libertina, cevastes os vossos corações para o dia da matança. Condenastes e matastes o justo, e ele não vos resiste.
 
 
Evangelho (Mc 9, 38-43.45.47-48)
Naquele tempo, João disse a Jesus: «Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demónios em teu nome e procurámos impedir-lho, porque ele não anda connosco». Jesus respondeu: «Não o proibais; porque ninguém pode fazer um milagre em meu nome e depois dizer mal de Mim. Quem não é contra nós é por nós. Quem vos der a beber um copo de água, por serdes de Cristo, em verdade vos digo que não perderá a sua recompensa. Se alguém escandalizar algum destes pequeninos que crêem em Mim, melhor seria para ele que lhe atassem ao pescoço uma dessas mós movidas por um jumento e o lançassem ao mar. Se a tua mão é para ti ocasião de escândalo, corta-a; porque é melhor entrar mutilado na vida do que ter as duas mãos e ir para a Geena, para esse fogo que não se apaga. E se o teu pé é para ti ocasião de escândalo, corta-o; porque é melhor entrar coxo na vida do que ter os dois pés e ser lançado na Geena. E se um dos teus olhos é para ti ocasião de escândalo, deita-o fora; porque é melhor entrar no reino de Deus só com um dos olhos do que ter os dois olhos e ser lançado na Geena, onde o verme não morre e o fogo nunca se apaga».
 
Abertura e tolerância
 1. Abertura e tolerância frente à tentação de monopolizar o carisma, é a lição que se depreende da primeira leitura e do evangelho de hoje. Este último tem duas secções sem ligação aparente: 1.ª, Em relação ao uso do nome de Jesus: «Quem não é contra nós é por nós», diz o Senhor. 2.ª, Em relação ao escândalo: temos de evitar, a todo o custo, o escândalo alheio e o próprio. Nesta segunda parte do evangelho, Marcos recolhe uma série de afirmações de Jesus sobre o escândalo e suas consequências: o abismo e o fogo que não se apaga. A primeira secção do evangelho tem um precedente na primeira leitura. A coincidência temática é evidente. Ao encontrar-se com um estranho exorcista, que não pertencia ao grupo de Jesus, mas que expulsava demónios em seu nome, os discípulos quiseram proibi-lo, «porque ele não anda connosco», diz João ao Senhor. Do mesmo modo, a primeira leitura mostra-nos Josué a tentar que Moisés proíba Eldad e Medad de profetizar, pois não tinham ido à tenda com os setenta anciãos para receber uma  participação no  espírito profético de Moisés.  Em ambos os casos trata-se de excesso de zelo, estreiteza de espírito, sectarismo intransigente e tentativa de monopolizar o carisma. As respostas de Jesus e de Moisés revelam tolerância frente à intransigência. «Não o impeçais; porque ninguém pode fazer um milagre em meu nome e depois dizer mal de Mim. Quem não é contra nós é por nós». Do mesmo modo responde Moisés a Josué: «Estás com ciúmes por causa de mim? Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor infundisse o seu espírito sobre eles!». Jesus quer a sua Igreja como comunidade aberta e solidária com todos os homens sinceros.
2. O carisma não é monopólio de ninguém. Como vemos pela página evangélica de hoje, antes da Páscoa, os apóstolos julgavam-se os únicos depositários do nome, missão, mensagem e poderes de Jesus. Mas Cristo, o evangelho e os carismas, bem como o bem e a verdade, não são monopólio de ninguém. Tanto pertencem à hierarquia eclesiástica, ao clero e aos religiosos, como aos leigos comprometidos no apostolado, e ao povo simples.
Na carta aos Coríntios,  São Paulo explica que no povo de Deus há diversidade de carismas e funções, mas um só Senhor, um só Espírito que os reparte, uma fé comum e um só Deus e Pai de todos. O que se nos pede é fidelidade humilde ao Espírito sem pensar que somos os proprietários. Se Jesus quer uma comunidade dialogal, tolerante e aberta a todos, os pastores da mesma deverão olhar,  com largueza de vistas e aceitação evangélica,  para os movimentos que partem da base, e atuam com honestidade e diálogo. Às vezes surgem homens e mulheres livres, profetas que vêem mais do que os restantes, inconformistas que entendem as coisas de maneira diferente de quem manda. Inevitavelmente, perante eles, surgem várias interrogações e, por vezes, a desconfiança. Pensemos, por exemplo, num Francisco de Assis, numa Teresa de Ávila ou num João da Cruz, no tempo em que viveram. Será um visionário, um iluminado, um sábio, um místico, um profeta? Como no caso do cego de nascimento, curado por Jesus e perseguido pelos fariseus, às vezes sucedem-se os interrogatórios e expedientes, outras, até, as condenações e excomunhões (Jo 9). 
3. Comunidade de portas abertas. Precisamos de fomentar o discernimento cristão para mostrar a credibilidade do evangelho e evitar os fanatismos e o monopólio do Espírito e do carisma. Jesus não quer a sua Igreja como um gueto fechado e com numerus clausus, mas como um redil aberto a outras ovelhas que ainda não são do rebanho. Quer que sejamos solidários com todos os homens e mulheres, honrados e com qualidades humanas, ainda que não sejam «dos nossos», porque não pertencem ao grupo cristão, não obstante, procuram a Deus com sinceridade de coração, praticando com lealdade o bem, a verdade e a justiça. É motivo de alegria: todos estes estão connosco. São os cristãos implícitos, os crentes anónimos que se ignora. A pertença eclesial não é o único critério de adesão a Cristo e ao reino de Deus. E este reino não se circunscreve ao âmbito da Igreja, mas anima todos os homens  de boa vontade.  Todos os que amam o próximo e  lutam sinceramente por um mundo mais humano e pelos direitos humanos, especialmente dos menos  favorecidos, estão a favor do  evangelho. A semente da palavra de Deus, semeada no espírito de todo o que segue o bem, como disseram os Padres da Igreja, também frutifica neles. Fomentar esta abertura e empatia não é desbaratar o cristianismo, nem pôr o evangelho a saldo. A palavra de Deus é eficaz e exige a conversão de todos, sendo, também, profundamente humana e compreensiva. Hoje é dia de nos examinarmos: Estamos, cada um de nós e a nossa comunidade, em atitude de diálogo, compreensão e tolerância, ou antes num ambiente de fanatismo intransigente?

Bendizemos-Te com alegria, Pai de todos os homens,

porque Tu não és monopólio nem posse privada de ninguém.

Pela atitude aberta e tolerante de Jesus percebemos

que quem é pela verdade, justiça, bem e paz,

está por nós, está por Cristo, pelo seu evangelho e sua causa.

 

Livra-nos, Senhor, de todo o sectarismo,

intransígência, falta de amor

e mesquinha estreiteza de espíito em relação aos nossos irmãos;

e faz do nosso grupo uma comunidade de portas abertas

a todos quantos Te procuram com honradez,

lealdade e ânimo sincero.

Converte o nosso coração ao amor que não discrimina ninguém,

para partilhar a tua palavra e o teu pão com todos os homens.

Ámen.

 

(in: ‘A Palavra de Cada Domingo’ de B. Caballero)

 

ENTRE  A  TOLERÂNCIA  E  A  INTRANSIGÊNCIA

 
 
 

Para reflexão
 

1. Sou dos que tendem a ser tolerantes consigo e intransigentes com os outros?

2. Em  que  aspetos  do  meu  comportamento se manifesta mais essa tendência desordenada?

3. Como se pode conciliar, por um lado, a intransigência do cristão em relação a tudo o que, à sua volta, é moralmente condenável, e, por outro, a obrigação de ser compreensivo com os outros?

4. Nas pessoas que eu conheço e que não são crentes, sou capaz de descobrir autênticos valores morais? E reconheço que tudo o que é bom vem de Deus? 

Para a vida 

Estar atento às  coisas  boas  que se podem ver em pessoas que não partilham a minha fé ou não me são simpáticas.




  FOLHA  DOMINICAL
 
Paróquia de S. Bartolomeu do Beato
           
Nº 84
                                  
XIII DOMINGO COMUM

                      ANO B − 1 de Julho de 2012





Palavra  de  Deus




























1.ª Leitura (Sab 1, 13-15; 2, 23-24)

Não foi Deus quem fez a morte, nem Ele Se alegra com a perdição dos vivos. Pela criação deu o ser a todas as coisas, e o que nasce no mundo destina-se ao bem. Em nada existe o veneno que mata, nem o poder da morte reina sobre a terra, porque a justiça é imortal. Deus criou o homem para ser incorruptível e fê-lo à imagem da sua própria natureza. Foi pela inveja do demónio que a morte entrou no mundo, e experimentam-na aqueles que lhe pertencem.

Salmo Responsorial – (29)

Refrão – Eu Vos louvarei, Senhor, porque me salvastes.

2.ª Leitura (2 Cor 8, 7.9.13-15)

Irmãos: Já que sobressaís em tudo − na fé, na eloquência, na ciência, em toda a espécie de atenções e na caridade que vos ensinámos − deveis também sobressair nesta obra de generosidade. Conheceis a generosidade de Nosso Senhor Jesus Cristo: Ele, que era rico, fez-Se pobre por vossa causa, para vos enriquecer pela sua pobreza. Não se trata de vos sobrecarregar para aliviar os outros, mas sim de procurar a igualdade. Nas circunstâncias presentes, aliviai com a vossa abundância a sua indigência para que um dia eles aliviem a vossa indigência com a sua abundância. E assim haverá igualdade, como está escrito: «A quem tinha colhido muito não sobrou e a quem tinha colhido pouco não faltou».

Evangelho (Mc 5, 21-43)

Naquele tempo, depois de Jesus ter atravessado de barco para a outra margem do lago, reuniu-se grande multidão à sua volta, e Ele deteve-se à beira-  -mar. Chegou então um dos chefes da sinagoga, chamado Jairo. Ao ver Jesus,
caiu a seus pés e suplicou-Lhe com insistência: «A minha filha está a morrer. Vem impor-lhe as mãos, para que se salve e viva». Jesus foi com ele, seguido por grande multidão, que O apertava de todos os lados. Ora, certa mulher que tinha um fluxo de sangue havia doze anos, que sofrera muito nas mãos de vários médicos e gastara todos os seus bens, sem ter obtido qualquer resultado, antes piorava cada vez mais, tendo ouvido falar de Jesus, veio por entre a multidão e tocou-Lhe por detrás no manto, dizendo consigo: «Se eu, ao menos, tocar nas suas vestes, ficarei curada». No mesmo instante estancou o fluxo de sangue e sentiu no seu corpo que estava curada da doença. Jesus notou logo que saíra uma força de Si mesmo. Voltou-Se para a multidão e perguntou: «Quem tocou nas minhas vestes?» Os discípulos responderam-Lhe: «Vês a multidão que Te aperta e perguntas: 'Quem Me tocou?'» Mas Jesus olhou em volta, para ver quem O tinha tocado. A mulher, assustada e a tremer, por saber o que lhe tinha acontecido, veio prostrar-se diante de Jesus e disse-Lhe a verdade. Jesus respondeu-lhe: «Minha filha, a tua fé te salvou». Ainda Ele falava, quando vieram dizer da casa do chefe da sinagoga: «A tua filha morreu. Porque estás ainda a importunar o Mestre?» Mas Jesus, ouvindo estas palavras, disse ao chefe da sinagoga: «Não temas; basta que tenhas fé». E não deixou que ninguém O acompanhasse, a não ser Pedro, Tiago e João, irmão de Tiago. Quando chegaram a casa do chefe da sinagoga,  Jesus encontrou grande alvoroço,  com gente que chorava  e grita-
va.  Ao entrar,  perguntou-lhes:  «Porquê todo este  alarido e  tantas  lamenta-
ções? A menina não morreu; está a dormir». Riram-se d'Ele. Jesus, depois de os ter mandado sair a todos, levando consigo apenas o pai da menina e os que vinham com Ele, entrou no local onde jazia a menina, pegou-lhe na mão e disse:  «Talitha Kum»,  que significa:  «Menina,  Eu te ordeno: levanta-
-te». Ela ergueu-se imediatamente e começou a andar, pois já tinha doze anos.  Ficaram todos muito maravilhados.  Jesus recomendou-lhes insistente-
mente que ninguém soubesse do caso e mandou dar de comer à menina.


  
Da morte nasce a vida
1. O poder da fé. Deus não fez a morte nem se alegra com a destruição dos vivos (1.ª leit.). O evangelho de hoje relata dois milagres: Jesus ressuscita a filha de Jairo e cura a hemorragia. Em ambos os casos se realiza a salvação da pessoa, algo mais profundo e transcendental do que o resultado físico, ou seja, realiza-se algo que está para lá dos limites da doença e da morte. Os sujeitos da ação salvadora de Jesus são mulheres e possuem em comum o número doze. A menina tem doze anos; e a mulher está doente há doze anos.  Nos dois milagres,  a fé humilde, que suplica pela boca do pai da crian-
ça e pelo gesto da mulher ao tocar o manto de Jesus, é o que faz detonar o feito sobrenatural. Estes casos são modelo da fé necessária para uma aproxi-
mação a Cristo. À mulher, assustada pela pergunta e pelo olhar de Jesus, Ele diz: «A tua fé te curou».  E a Jairo,  quando já a caminho de casa lhe comuni-
caram a triste notícia da morte da sua filha, Jesus anima-o, dizendo: «Não temas; basta que tenhas fé». A ressurreição da filha de Jairo, tal como outras duas ressurreições que lemos nos evangelhos − Lázaro e o filho da viúva de Naím −, têm a condição de sinal: evidenciam a chegada e vitalidade do reino de Deus, presente na pessoa de Jesus, põem em destaque o poder de Cristo sobre a morte e, sobretudo, preanunciam a ressurreição de Cristo.
2. Deus é a fonte da vida.  O maior presente que recebemos  na nossa exis-
tência é o dom gratuito da vida, tanto física como espiritual. Ambas são fruto de um amor maior que nos precedeu: o de nossos pais e de Deus. Sentimos o amor que Deus nos tem em muitas manifestações da convivência humana: família, amigos, vizinhos. Há um reflexo da vida que Ele nos dá, na alegria do amor dos esposos, no bulício e brincadeiras das crianças, no idealismo dos adolescentes e jovens  que se abrem à  vida e ao  amor,  na partilha dos ami-
gos, no trabalho em equipa, na solidariedade com os doentes,  pobres e mar-
ginais, nos tempos livres e no desporto. Tudo faz parte da vida humana, brota da fonte da vida que é Deus, e expressa o amor que Ele nos mostrou em Jesus Cristo. Mas na outra face da vida aparece, também, a dor e o sofrimen-
to, a depressão e a tristeza, a doença e a morte. Há muita negação da vida no nosso mundo, umas vezes por causas naturais e outras por culpa do homem: guerra e fome, egoísmo e exploração, violência e opressão, ódios e vinganças. O fenómeno da morte é tão naural como a vida. Mas porquê a morte, se viver é a nossa aspiração máxima? Lei natural, dizem alguns; tal como se nasce, também se morre. Destino fatal, cruel e absurdo, respondem outros. Estas respostas à margem da fé, não resolvem o enigma máximo da vida humana: a morte.
3. Da morte nasce a vida. A fé, apoiada em argumentos sólidos, responde às interrogações angustiantes sobre o destino do homem. «O homem foi cria-
do por Deus para um fim feliz, para além dos limites da miséria terrena. A fé cristã ensina que a própria morte corporal, de que o homem seria isento se não tivesse pecado − conforme o Livro da Sabedoria (1.ª leit.) e São Paulo aos Romanos (5,12) − acabará por ser vencida, quando o homem for, pelo omnipotente e misericordioso Salvador, restituído à salvação que por sua culpa perdera. Deus chama o homem a unir-se a Ele na perpétua comunhão da incorruptível vida divina.  Esta vitória, alcançou-a Cristo ressuscitado, liber-
tando o homem  da morte  com a  própria morte» (GS 18).  É o que proclama-
mos na liturgia dos defuntos: «Em Cristo trilha a esperança da nossa feliz res-
surreição, e assim, embora a certeza de morrer nos entristeça, consola-nos a promessa da imortalidade futura. Porque a vida dos que creem em Ti, Senhor, não termina, apenas se transforma» noutra vida plena e eterna.
O próprio Jesus foi o grão de trigo que morrendo gerou a vida. Unidos a Ele e com os irmãos entenderemos que a comunhão do corpo do Senhor é, entre outros aspectos, um firme compromisso com a vida, partilhando tudo com os nossos semelhantes (2.ª leit.).

Hoje o nosso coração bendiz-Te, Deus amigo da vida,

porque vemos Cristo a ressuscitar a menina de Jairo

e devolvendo a saúde à pobre mulher doente.

Assim anunciava a presença do reino de Deus entre os homens

e antecipava o triunfo definitivo da sua própria ressurreição.


              Ajuda-nos, Senhor, a entender que o único caminho válido

              para ter e dar vida em plenitude fecunda é seguir o estilo

             que Jesus nos trouxe com a sua palavra e exemplo: Se o grão de trigo

             não morrer na terra, fica estéril sem produzir fruto.



Com o teu Espírito, transforma-nos, Senhor,

em testemunhas do teu amor

que cria vida, difunde o teu reino e rejuvenesce os corações.

Amen.
PAULUS — B. CABALLERO

DEUS  É  PELA  VIDA
Para reflexão

1. Perante o drama do sofrimento e o escândalo da morte, limito-me a revoltar-

-me contra Deus, como os não crentes, que veem n’Ele o direto responsável por tudo isso?

2. Que faço eu para ajudar os que sofrem a aceitar com coragem as suas provações e sofrimentos?

3. Procuro iluminar os aspetos da vida, em mim e nos outros, com o que a vida, apesar de tudo, tem de bom?


Para a vida

Imitar Jesus Cristo no seu interesse pelos doentes e por todos os que sofrem, visitando-os, confortando-os e prestando-lhes ajuda.




























FOLHA DOMINICAL

Paróquia de S. Bartolomeu do Beato
Nº 82
XI DOMINGO COMUM

ANO B − 17 de Junho de 2012





























 

Palavra  de  Deus
1.ª Leitura (Ez 17, 22-24)
Eis o que diz o Senhor Deus: «Do cimo do cedro frondoso, dos seus ramos mais altos, Eu próprio arrancarei um ramo novo e vou plantá-lo num monte muito alto. Na excelsa montanha de Israel o plantarei e ele lançará ramos e dará frutos e tornar-se-á um cedro majestoso. Nele farão ninho todas as aves, toda a espécie de pássaros habitará à sombra dos seus ramos. E todas as árvores do campo hão-de saber que Eu sou o Senhor; humilho a árvore elevada e elevo a árvore modesta, faço secar a árvore verde e reverdeço a árvore seca. Eu, o Senhor, digo e faço».
Salmo Responsorial – (91)
Refrão – É bom louvar-Vos, Senhor.
2.ª Leitura (2 Cor 5, 6-10)
Irmãos: Nós estamos sempre cheios de confiança, sabendo que, enquanto habitarmos neste corpo, vivemos como exilados, longe do Senhor,  pois cami-
nhamos à luz da fé e não da visão clara. E com esta confiança, preferíamos exilar-nos do corpo,  para irmos habitar  junto do Senhor.  Por isso nos empenhamos em ser-Lhe agradáveis, quer continuemos a habitar no corpo, quer tenhamos de sair dele. Todos nós devemos comparecer perante o tribunal de Cristo, para que receba cada qual o que tiver merecido, enquanto esteve no corpo, quer o bem, quer o mal.
Evangelho (Mc 4, 26-34)
Naquele tempo, disse Jesus à multidão: «O reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Dorme e levanta-se, noite e dia, enquanto a semente germina e cresce, sem ele saber como. A terra produz por si, primeiro a planta, depois a espiga,  por fim o trigo maduro na espiga.  E quando o trigo o permite, logo mete a foice, porque já chegou o tempo da colheita». Jesus dizia ainda: «A que havemos de comparar o reino de Deus? Em que parábola o havemos de apresentar? É como um grão de mostarda, que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes que há sobre a terra; mas, depois de semeado, começa a crescer e torna-se a maior de todas as plantas da horta, estendendo de tal forma os seus ramos que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra». Jesus pregava-lhes a palavra de Deus com muitas parábolas como estas, conforme eram capazes de entender. E não lhes falava senão em parábolas; mas, em particular, tudo explicava aos seus discípulos.

























 
O crescimento imparável do reino

1. A semente vai crescendo pouco a pouco. O texto do evangelho de hoje divide-se em três secções. Em que as duas primeiras contêm pequenas parábolas: 1.ª, a semente que cresce por si só; 2.ª, o grão de mostarda; 3.ª, conclusão sobre as parábolas como método preferido de Jesus para falar às pessoas, explicando-as depois, em privado, aos discípulos. Através das duas parábolas Jesus afirma que, com o reinado de Deus, acontece como com as sementes: não manifestam a plenitude de repente, mas pouco a pouco, sem violência e a partir de inícios humildes. Cumpre-se assim o anúncio do profeta Ezequiel na primeira leitura. Depois de ter condenado alegoricamente o comportamento do rei Sedecias, que jurara falso, o profeta consola os compatriotas e companheiros de desterro na Babilónia (séc. VI a.C.) com a esperança de um reino messiânico, cujos princípios são tão tímidos como os de um ramo novo que o Senhor transformará em cedro majestoso, onde as aves do céu farão ninho.
O reinado de Deus é uma realidade oculta e impercetível, com um desenvolvimento tão lento que, tal como acontece com as plantas, os nossos olhos não podem ver, nem o nosso ouvido perceber, o que está a acontecer. Apenas com medições distanciadas no tempo poderemos verificar o seu crescimento, como acontece com as crianças, com uma planta num vaso, ou com as árvores. A manifestação plena do reino ficará em evidência, com toda a força, na etapa final do mesmo. Mas desde já actua de maneira profunda, com um crescimento lento, ainda que invisível. É já uma realidade, com efeitos positivos, desde que Jesus o inaugurou.


2. Optimismo cheio de esperança, frente à impaciência derrotista, é a mensagem deste domingo. Mesmo que hoje tenhamos motivos para a preocupação e para o desespero, a palavra bíblica de hoje contém explicitamente um anúncio realista de otimismo e esperança, baseado na fé. O reino de Deus chega infalivelmente, graças a Cristo e ao Espírito Santo. Por isso o crente não deve valorizar, nunca, o desânimo e o pessimismo. Tanto a fé sem esperança de alguns crentes fracos, como a esperança sem
fé dos agnósticos e ateus declarados soam igualmente a falso, ainda que por razões distintas, vistas da realidade luminosa da mensagem evangélica de Cristo sobre o reino.  Dado o nosso apego à programação,  à eficácia produti-
va, ao êxito rápido e espetacular, à estatística e percentagem, é frequente a impaciência pelos frutos visíveis e palpáveis. Impaciência que aplicamos a todos os sectores, tanto eclesial e pastoral como familiar e educacional; aos meios de difusão ao serviço do evangelho;  à catequese e aos grupos apostó-
licos; às comunidades religiosas e aos grupos de jovens; à pastoral dos sacramentos e às reuniões de oração e de vida ascendente ou da terceira idade. Depois de anos de cristianismo e de cumprimento religioso, de exercícios espirituais e leitura da Bíblia,  de meditação e  de oração comunitá-
ria e particular, para que serviram tantos esforços se tudo parece continuar na mesma? Pretendemos ver crescer rapidamente um cristianismo pujante, frondoso e carregado de frutos maduros. Cedemos assim, pouco a pouco, ao desânimo e ao desespero, julgando que estamos a perder tempo e esforço. Eis um desafio permanente à esperança cristã. Contudo, a semente de Deus tem um dinamismo silencioso mas imparável, e frutificará com toda a certeza. Não lhe apliquemos critérios de eficácia imediata, quase violenta, porque esses não são os padrões seguidos pelo reino de Deus.
3. É Deus quem dá o crescimento. Com as duas parábolas da semente, o evangelho de hoje − e igualmente a primeira leitura − vem dizer que Deus recusa os meios deslumbrantes  e avassaladores.  Ao fim e ao cabo,  verifica-
-se o que dizia São Paulo: «Aquele que planta não é nada, e aquele que rega também não é nada: só Deus é que conta, pois é Ele quem faz crescer» (1Cor 3,7). Ele é o único que salva, não pela força, mas pela debilidade paradoxal que faz o reino de Deus crescer, pouco a pouco, dentro e fora de nós. O reino de Deus é o seu reinado de amor, justiça, paz e santidade na terra dos homens; é a soberania da sua vontade absoluta e do império amoroso do seu desígnio salvador na vida dos homens. Por isso, no Pai Nosso, cujo tema central é o reino de Deus, logo depois da petição «Venha a nós o vosso reino», acrescentamos «Seja feita a vossa vontade, assim na terra como nos céus», porque este é o caminho para a vinda do reino. Se se consegue isto, na vida pessoal e no meio eclesial, familiar e social em que nos movemos, realiza-se o mais importante e fundamental da nossa condição de discípulos de Cristo. Depois virá o resto que nos será dado por acréscimo: o pão nosso de cada dia, etc.
Sem pretensões evasivas, aprofundemos a oração e a contemplação, na admiração e na fruição do Espírito, para captar a gratuidade de Deus (parábola da semente que cresce sozinha) e para dar valor às coisas pequenas, o sorriso suave, os gestos simples mas autênticos, como a minúscula semente do reino de Deus (parábola do grão de mostarda). Se até as sementes de trigo encontradas em 1922, por Howard Cárter, no túmulo do jovem faraó Tutankamon (séc XIV a.C.) germinaram, depois de mais de três mil anos, qual não será o eterno efeito da semente do reino de Deus?

Bendito seja o teu nome, Pai nosso, Deus da paciência,
porque Jesus Cristo, teu Filho, inaugurou entre nós o teu reino
com os meios pobres que Tu preferes para as tuas obras,
sem espetacularidade deslumbrante,
sem impaciência avassaladora.

Assim manifestou a força interior e imparável do reino,
cujos começos humildes e silenciosos, mas eficazes nos falam
de optimismo esperançado perante o derrotismo impaciente.

Concede-nos, Senhor, aprofundar a oração e a contemplação,
na admiração e na fruição do Espírito, para captar a gratuidade
do teu reino na pequena semente que desafia a intempérie,
para saber esperar, aguardando com fé a tua gloriosa vinda.
Ámen.
  
PAULUS — B. CABALLERO

O REINO DE DEUS É VIDA SEMPRE A CRESCER


























Para reflexão 



1. Pode afirmar-se que a história da Igreja, desde o seu início, é prova de que nela está uma força divina que a tem feito crescer e desenvolver-se em frutos morais e espirituais?
2. Como se pode conciliar a presença dessa força divina na Igreja, com as suas crises periódicas, por vezes graves?
3. Na actualidade, quais são os principais sinais de que o  Reino de Deus se vai desen-
volvendo no mundo, por meio da Igreja?
4. Na minha postura perante a vida, sou mais inclinado a fazer juízos negativos, ou a alimentar sentimentos de esperança?

Para a vida

Com um sorriso ou um qualquer acto de  delicadeza, procurarei mostrar que não desanimo, face às incompreensões e fraquezas daqueles que me rodeiam.































FOLHA  DOMINICAL
Paróquia de S. Bartolomeu do Beato
   Nº 80
                                 
SANTÍSSIMA TRINDADE
ANO B − 3 de Junho de 2012

    




Palavra  de  Deus

.ª Leitura (Deut 4, 32-34.39-40)

Moisés falou ao povo, dizendo:  «Interroga os tempos antigos que te precede-

ram, desde o dia em que Deus criou o homem sobre a terra. Dum extremo ao outro dos céus, sucedeu alguma vez coisa tão prodigiosa?  Ouviu-se  porven-

tura palavra semelhante? Que povo escutou como tu a voz de Deus a falar do meio do fogo e continuou a viver? Qual foi o deus que formou para si uma nação no seio de outra nação, por meio de provas, sinais, prodígios e comba-

tes, com mão forte e braço estendido, juntamente com tremendas maravilhas, como fez por vós o Senhor vosso Deus no Egipto, diante dos vossos olhos? Considera hoje e medita em teu coração que o Senhor é o único Deus,  no al-

to dos céus e cá em baixo na terra, e não há outro. Cumprirás as suas leis e os seus mandamentos, que hoje te prescrevo, para seres feliz, tu e os teus filhos depois de ti, e tenhas longa vida na terra que o Senhor teu Deus te vai dar para sempre».



Salmo Responsorial – (32)

Refrão – Feliz o povo que o Senhor escolheu para sua herança.



2.ª Leitura (Rom 8, 14-17)

Irmãos: Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Vós não recebestes um espírito de escravidão para recair no temor, mas o Espírito de adopção filial, pelo qual exclamamos: «Abba, Pai». O próprio Espírito dá testemunho, em união com o nosso espírito, de que somos filhos de Deus. Se somos filhos, também somos herdeiros, herdeiros de Deus e herdeiros com Cristo; se sofrermos com Ele, também com Ele seremos glorificados.






























Evangelho (Mt 28, 16-20)
Naquele tempo, os onze discípulos partiram para a Galileia, em direcção ao monte que Jesus lhes indicara. Quando O viram, adoraram-n'O; mas alguns ainda duvidaram. Jesus aproximou-Se e disse-lhes: «Todo o poder Me foi da-
do no Céu e na terra.  Ide e fazei discípulos  de todas as nações,  baptizando-
-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo o que vos mandei. Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos».
 
O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo

1. O mistério de Deus nos lábios de Jesus. Ao celebrar o mistério de fé que é a Santíssima Trindade, surgem perguntas como estas: Quem é Deus? Que imagem temos d'Ele? Que significa para o nosso mundo, para o homem actual, para mim? Na sua mensagem e pessoa, Cristo foi fazendo uma revelação progressiva e dinâmica do mistério de Deus, uno e trino. Primeiro fala de Deus Pai que O Enviou; depois de Si mesmo como Filho do Pai e igual a Ele; e no fim da sua vida, menciona o Espírito Santo que depois confere aos discípulos, a par da missão evangelizadora. Nos lábios de Jesus as três pessoas divinas realizam o plano de salvação humana. O Pai exprime o seu amor dando-nos o seu Filho, Jesus Cristo, que morre e ressuscita pela redenção do homem pecador. E o Filho envia, a partir do Pai, o Espírito de ambos para santificação, adopção filial e guia dos crentes até à verdade plena e possessão de Deus.

2. Dentro do círculo trinitário pelo Baptismo. O texto evangélico de hoje faz menção explícita da Trindade na fórmula do baptismo, que reflecte, sem dúvida, a praxis baptismal já desde a Igreja apostólica: «Ide e ensinai todas as nações, baptizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo o que vos mandei». O Baptismo, sacramento de fé, introduz-nos no círculo trinitário através do nascimento para a vida de adopção filial por Deus, como testemunha o seu Espírito dentro de nós: «Se somos filhos, também somos herdeiros, herdeiros de Deus e herdeiros com Cristo» (2.ª leit.). Neste texto da segunda leitura aparece a Trindade agindo dinamicamente na nossa vida.  De tal forma, que podemos experimentar pes-
soalmente, na fé e no amor, a nossa relação familiar de filhos para com Deus-Pai, Deus-Filho e Deus-Espírito Santo. Os grandes cristãos de todos os tempos, santos e místicos,  são testemunhas desta profunda e  gozosa espiri-
tualidade trinitária em que o crente mergulha, devido à adopção filial pelo Pai, concretizada e tornada consciente graças ao dom do Espírito através de Cristo. Ele incorporou-nos pelo Baptismo na sua vida nova de ressuscitado.
  
PAULUS — B. CABALLERO
«GLÓRIA AO PAI,  PELO FILHO,
NO ESPIRITO SANTO»
Para reflexão

1. Como é que da simples crença num Deus criador se passou para fé cristã em Deus Uno e Trino − Pai e Filho e Espírito Santo?
2. Jesus  mandou  aos  apóstolos  que  fizessem «discípulos»,  evangelizando-os e baptizando-os. Como estou eu a mostrar que sou verdadeiro discípulo de Jesus Cristo?
3. Jesus ressuscitado prometeu aos  apóstolos que estaria com os seus discípulos todos os dias,  até ao  fim dos  tempos.  Em que sinais se manifesta esta permanente presença do Senhor Jesus no meio de nós e na minha própria vida? 
Para a vida

Como  baptizado, cultivar o espírito de comunhão nas relações com os outros, à imagem do mistério de Deus que é Uno e Trino.

SANTÍSSIMO CORPO E SANGUE DE CRISTO

Quinta-feira - 7 de Junho de 2012



1.ª Leitura (Ex 24, 3-8)

Naqueles dias, Moisés veio comunicar ao povo todas as palavras do Senhor e todas as suas leis. O povo inteiro respondeu numa só voz: «Faremos tudo o que o Senhor ordenou». Moisés escreveu todas as palavras do Senhor. No dia seguinte, levantou-se muito cedo, construiu um altar no sopé do monte e ergueu doze pedras pelas doze tribos de Israel. Depois mandou que alguns jovens israelitas oferecessem holocaustos e imolassem novilhos, como sacrifícios pacíficos ao Senhor. Moisés recolheu metade do sangue, deitou-o em vasilhas e derramou a outra metade sobre o altar. Depois, tomou o Livro da Aliança e leu-o em voz alta ao povo, que respondeu: «Faremos quanto o Senhor disse e em tudo obedeceremos». Então, Moisés tomou o sangue e aspergiu com ele o povo, dizendo: «Este é o sangue da aliança que o Senhor firmou convosco, mediante todas estas palavras».



Salmo Responsorial – (115)

Refrão – Tomarei o cálice da salvação e invocarei o nome do Senhor.































2.ª Leitura (Hebr 9, 11-15)
Irmãos: Cristo veio como sumo sacerdote dos bens futuros. Atravessou o tabernáculo maior e mais perfeito, que não foi feito por mãos humanas, nem pertence a este mundo, e entrou de uma vez para sempre no Santuário. Não derramou sangue de cabritos e novilhos, mas o seu próprio Sangue, e alcançou-nos uma redenção eterna. Na verdade, se o sangue de cabritos e de toiros e a cinza de vitela, aspergidos sobre os que estão impuros, os santificam em ordem à pureza legal, quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno Se ofereceu a Deus como vítima sem mancha, purificará a nossa consciência das obras mortas, para servirmos ao Deus vivo! Por isso, Ele é mediador de uma nova aliança, para que, intervindo a sua morte para remissão das transgressões cometidas durante a primeira aliança, os que são chamados recebam a herança eterna prometida.

Evangelho (Mc 14, 12-16.22-26)
No primeiro dia dos Ázimos, em que se imolava o cordeiro pascal, os discípu-
los perguntaram a Jesus: «Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?» Jesus enviou dois discípulos e disse-lhes: «Ide à cidade. Virá ao vosso encontro um homem com uma bilha de água. Segui-o e, onde ele entrar, dizei ao dono da casa: «O Mestre pergunta: Onde está a sala, em que hei-de comer a Páscoa com os meus discípulos?» Ele vos mostrará uma grande sala no andar superior, alcatifada e pronta. Preparai-nos lá o que é preciso». Os discípulos partiram e foram à cidade. Encontraram tudo como Jesus lhes  tinha dito e  prepararam a  Páscoa.  Enquanto comiam,  Jesus to-
mou o pão, recitou a bênção e partiu-o, deu-o aos discípulos e disse: «Tomai: isto é o meu Corpo». Depois tomou um cálice, deu graças e entregou-lho. E todos beberam dele. Disse Jesus: «Este é o meu Sangue, o Sangue da nova aliança, derramado pela multidão dos homens. Em verdade vos digo: Não voltarei a beber do fruto da videira, até ao dia em que beberei do vinho novo no reino de Deus». Cantaram os salmos e saíram para o Monte das Oliveiras. 
Corpo e Eucaristia 
A festa do Corpo e Sangue de Cristo celebrou-se liturgicamente pela primeira vez na diocese de Liége, Bélgica (1246); e entrou no missal romano para a Igreja universal nesse mesmo século XIII, com um esquema litúrgico feito por São Tomás de Aquino.
Cristo, ao instituir a Eucaristia no contexto da ceia pascal hebraica (evang.), que comemorava a libertação da escravidão do Egipto, dá-lhe o carácter de nova páscoa e sacrifício da nova aliança para o perdão dos pecados.
A celebração de Eucaristia é uma necessidade de vida e comunhão com Deus e  com os  irmãos;  é a nossa força e alegria de cristãos;  é um compro-
misso de fé e de amor que dá sentido a toda a nossa existência.




FOLHA  DOMINICAL
 Paróquia de S. Bartolomeu do Beato
Nº 78
ASCENSÃO DO SENHOR

ANO B - 20 de Maio de 2012

Palavra de Deus


1.ª Leitura (Actos 1, 1-11)

No meu primeiro livro, ó Teófilo, narrei todas as coisas que Jesus começou a fazer e a ensinar, desde o princípio até ao dia em que foi elevado ao Céu, de-

pois de ter dado, pelo Espírito Santo, as suas instruções aos Apóstolos que escolhera. Foi também a eles que, depois da sua paixão, Se apresentou vivo com muitas provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando-lhes do reino de Deus. Um dia em que estava com eles à mesa, mandou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, «da qual − disse Ele − Me ouvistes falar. Na verdade, João baptizou com água; vós, porém, sereis baptizados no Espírito Santo, dentro de poucos dias». Aqueles que se tinham reunido começaram a perguntar: «Senhor, é agora que vais restaurar o reino de Israel?» Ele respondeu-lhes: «Não vos compete saber os tempos ou os momentos que o Pai determinou com a sua autoridade; mas recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra». Dito isto, elevou-Se à vista deles e uma nuvem escondeu-O a seus olhos. E estando de olhar fito no Céu, enquanto Jesus Se afastava, apresentaram-se-lhes dois homens vestidos de branco, que disseram: «Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu».



Salmo Responsorial – (46)

Refrão – Ergue-Se Deus, o Senhor, em júbilo e ao som da trombeta.



2.ª Leitura (Ef 1, 17-23)

Irmãos: O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda um espírito de  sabedoria e de luz para  O conhecerdes plenamente e ilumine



os olhos do vosso coração, para compreenderdes a esperança a que fostes chamados, os tesouros de glória da sua herança entre os santos e a incomensurável grandeza do seu poder para nós os crentes. Assim o mostra a eficácia da poderosa força que exerceu em Cristo, que Ele ressuscitou dos mortos e colocou à sua direita nos Céus, acima de todo o Principado, Poder, Virtude e Soberania, acima de todo o nome que é pronunciado, não só neste mundo, mas também no mundo que há-de vir. Tudo submeteu aos seus pés e pô-l'O acima de todas as coisas como Cabeça de toda a Igreja, que é o seu Corpo, a plenitude d'Aquele que preenche tudo em todos.



Evangelho (Mc 16, 15-20)

Naquele tempo, Jesus apareceu aos Doze e disse-lhes: «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for baptizado será salvo; mas quem não acreditar será condenado. Eis os milagres que acompanharão os que acreditarem: expulsarão os demónios em meu nome; falarão novas línguas; se pegarem em serpentes ou beberem veneno, não sofrerão nenhum mal; e quando impuserem as mãos sobre os doentes, eles ficarão curados». E assim o Senhor Jesus, depois de ter falado com eles, foi elevado ao Céu e sentou-Se à direita de Deus. Eles partiram a pregar por toda a parte e o Senhor cooperava com eles, confirmando a sua palavra com os milagres que a acompanhavam.


Missão em dois tempos


1. Envio e mandato missionários.  A ascensão do  Senhor não é um  episódio isolado, o último da história de Jesus,  nem um acto independente e separado da ressurreição. Segundo o relato dos Actos (1.ª leit.), a ascensão do Senhor é o ponto final do evangelho e das aparições de Cristo ressuscitado entre os seus discípulos,  e é também o início da missão da Igreja,  representada nos apóstolos. Missão que se baseia no envio e mandato missionário de Jesus, a que se une uma promessa imediata: o baptismo no Espírito Santo que é quem na história da salvação faz a ponte entre a etapa de Cristo e o tempo da Igreja. De facto, as três celebrações litúrgicas: Ressurreição, Ascensão e Pentecostes,  embora se distingam conceptualmente,  e as separemos no tempo, não são mais do que momentos catequéticos do único mistério pascal de Cristo. A mensagem que se deduz do evangelho de Marcos correspondente a este ano, põe em relevo a missão evangelizadora da Igreja e dos cristãos. Quando Jesus aparece aos discípulos diz-lhes: «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for baptizado será salvo; mas quem não acreditar será condenado». A missão evangelizadora que Cristo transmite aos apóstolos, ou seja, à Igreja, é universal e não se limita ao povo judeu. Marcos acentua o efeito salvador da fé e no resultado contrário da falta de fé, conforme a resposta do homem ao evangelho. «Eles partiram a pregar por toda a parte e o Senhor cooperava

































com eles, confirmando a sua palavra com os milagres que a acom-panhavam». A evangelização é a vocação própria da comunidade cristã e dos seus membros. Através do anúncio infatigável do reino de Deus, os discípulos de Jesus têm de proclamar a sua salvação libertadora.

2. Anúncio e sinais de libertação. São duas as formas de missão que Jesus nos confia: o anúncio directo e o testemunho pessoal e comunitário através dos sinais de libertação. Em ambas as formas Jesus está presente com a acção do Espírito, que é a sua presença invisível mas eficaz. Na verdade, Cristo não Se ausenta do mundo e da comunidade eclesial. Só muda o seu modo de presença. Em certo sentido, o tempo da Igreja não é «depois de Cristo», pois Ele continua vivo e agindo no seu povo através do serviço ao reino de Deus e ao mundo, por parte da comunidade cristã. Jesus Cristo convoca-nos, com urgência, para a missão de evangelização e libertação humana. Agora que Ele não está fisicamente presente entre os homens, é o grupo dos crentes que há-de torná-l’O visível no mundo pelo anúncio e testemunho. Tornar Jesus presente e acelerar a vinda do reino de Deus é possibilitar a soberania amorosa de Deus, como expressa a grande oração que é o Pai-Nosso: «Venha a nós o teu reino, Senhor; faça-se a tua vontade na terra dos homens através do teu Senhorio de amor e liberdade».
a) O anúncio directo do evangelho. Temos de realizar hoje o trabalho evangelizador, através do anúncio directo do evangelho com todos os meios possíveis: palavra (evangelização, homilia, catequese), liturgia, meios de comunicação social (imprensa, rádio, televisão), literatura, arte,  festa e convi-
vência. O nosso anúncio tem de ser animado pelo amor e pelo sopro do Espírito de Deus, que é liberdade. Anúncio respeitador da pessoa, ao estilo de Jesus; sem impor, mas convidando; sem ameaçar, mas oferecendo a salvação; sem escravizar nem absorver a autonomia própria do homem e das realidades mundanas, mas com abertura daquele e destas à transcendência de Deus e ao seu reinado ou soberania amorosa em todos os sectores da vida: família e sociedade, educação e cultura, trabalho, economia e política.
b) O testemunho e os sinais de libertação. O anúncio e a palavra têm de ser acompanhados, como fez Jesus, pelo testemunho de vida e sinais, ou seja, pelo compromisso dos cristãos na promoção do homem, a partir da dignidade da pessoa e condição de filho de Deus e irmão dos outros. Jesus pôs o acento na libertação integral do ser humano, como sinal do reino já presente na sua pessoa. Declarou-o no programa inicial da sua actividade apostólica, quando na sinagoga de Nazaré aplicou a Si mesmo o texto do profeta Isaías: «O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Notícia aos pobres; enviou-Me para proclamar a libertação aos presos, e aos cegos a recuperação da vista; para libertar os oprimidos e para proclamar um ano de graça do Senhor» (Lc 4,18).
Para bem celebrar a ascensão do Senhor temos de implicar toda a nossa vida no amor por Cristo e pelos irmãos oprimidos. Só assim se cumpre a tarefa e missão que Jesus encomendou à Igreja, seu povo.

Bendizemos-Te, Pai, com toda a força do nosso Espírito
pela glorificação do teu Filho e nosso irmão, Jesus Cristo.
Ele não subiu ao céu para Se alhear deste mundo, mas,
como nossa cabeça, precede-nos na glória eterna do teu reino.

Obrigado também, Pai, porque Jesus confia-nos a sua missão
e quer precisar da nossa inteligência e do nosso coração,
das nossas mãos e dos nossos lábios, nossos pés e do nosso tempo,
ao serviço da boa nova de salvação e de amor ao homem.

Não permitas, Senhor, que nos fechemos na comodidade,
na apatia, no egoísmo, em suma, na falta de fé.
Enche-nos da força do Espírito, e conta connosco. Ámen.

PAULUS — B. CABALLERO


«VIM  DO  PAI... VOLTO PARA O PAI

Para reflexão
1. Como se deve entender o que chamamos a «ascensão» de Jesus ao Céu?
2. Por que motivo se deve afirmar que a partida de Jesus para junto do Pai não implica a sua ausência, em relação a nós?
3. Que  interesse  tem o  mistério da  Ascenção de Jesus ao Céu para a  compreensão do destino último do ser humano?
4. Porque é que a Ascensão do Senhor deve ser vista em relação com o  mandato missionário da Igreja?

Para a vida
Cumprir as minhas tarefas temporais com a alegria de saber que o Senhor, embora tenha partido, está sempre connosco.

Tome nota
No dia 27 de Maio, às 18h, será celebrada Missa Campal, na mata da Madre de Deus, seguida de Procissão de velas em honra de Nossa Senhora.





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